quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Genialidade precoce

O compositor e pianista Franz Liszt (em húngaro, Liszt Ferenc), nascido na cidadezinha de Raiding/Doborjan, em 22 de outubro de 1811, ficou famoso pela genialidade de sua obra. É dos poucos artistas, todavia, cuja fama cresce – no meio da música erudita – à medida que o tempo passa, em vez de diminuir ou de cessar, como normalmente acontece. Pudera! Sou admirador incondicional de suas composições. Presumo que eu seria um sujeito de péssimo gosto se, conhecendo sua obra (notadamente a pianística), que revolucionou o estilo musical de sua época, não a apreciasse. A menos que não entendesse nada de música e não soubesse distinguir nem mesmo um dó de um si.

Não sou músico (infelizmente), embora seja apreciador do que há de melhor nessa arte. Posto que tenha meros rudimentos de teoria, pelo menos sei ler (e entender) uma partitura, o que me credencia a pelo menos palpitar a propósito. E quem tem essa habilidade, não tem como não apreciar o que Liszt compôs. No caso dele, pode-se dizer, sem exageros ou contestações, que foi um gênio na sua especialidade, o que qualquer cético pode constatar ouvindo suas composições. E digo mais, passados 126 anos da sua morte (ocorrida em 31 de julho de 1886), ele ainda é considerado um dos maiores pianistas de todos os tempos. Ou seja, era virtuose no instrumento para o qual compôs.

Sua contribuição para o desenvolvimento da técnica de piano não tem similar na história. Se acharem que exagero, perguntem aos principais pianistas da atualidade. Certamente seu entusiasmo por Liszt será maior (e infinitamente mais abalizado) do que o meu, que já não é pequeno.

A vida (e, por conseqüência, a obra) desse gigante da criatividade musical teve três principais pilares, três vertentes, todas oriundas da infância: a música, a religião e o interesse pela cultura dos ciganos que sempre o fascinou. Dizem (e desconfio que com forte dose de razão) que as marcas mais fortes deixadas por nossa meninice são as que balizam toda nossa vida e determinam nossa personalidade. Afinal, por mais experiências que venhamos a ter, o menino que um dia fomos permanece vivo para sempre em algum recanto de nós. Isso foi verdadeiro pelo menos para o garoto Franz.

No lar, o que jamais faltou, foi música. O pai, Adam Liszt, embora vivesse em condições materiais modestas, era um nobre e orgulhoso de sua origem. Tocava alguns instrumentos. Sua preferência era o violino, mas foi na guitarra que chegou a fazer relativa fama, participando de programas ao lado de exímios e consagrados músicos profissionais. Na casa do menino Franz, portanto, sons, dos mais variados – desde os mais elaborados, criados pelos mais célebres compositores da época aos engendrados pelos ciganos em suas canções populares, pérolas do folclore húngaro – bailavam, o tempo todo, no ar.

Em um ambiente, como aquele, qualquer criança, dotada de um mínimo de talento para a música, certamente, ao crescer, seguiria a carreira musical. Se com sucesso ou não, são outros quinhentos. Dependeria de uma série de fatores, ou seja, das tais circunstâncias, como, por exemplo, de oportunidades para se instruir e para desenvolver suas aptidões. Mas que teria interesse por essa arte, disso não tenho dúvidas. E foi o que aconteceu com o pequeno Franz.

Adam, todavia, como pai zeloso, queria que seu filho tivesse infância normal, como qualquer criança. Opunha-se à precocidade, por entender que isso poderia comprometer a personalidade do filho. Quando Franz começou a andar, o pai fazia de tudo para que o interesse do garoto fosse por brinquedos e não pela música. Achava que, se o menino tivesse vocação para ela, esta deveria ser identificada e incentivada em seu devido tempo. Impedia que o filho sequer chegasse perto do piano da casa. Todo esse esforço, no entanto, foi em vão.

Há coisas que a razão e a lógica não conseguem explicar. Uma delas foi o acontecimento que se deu na casa dos Liszts, quando o pequeno Franz tinha apenas seis anos de idade. Numa determinada noite, durante um dos costumeiros saraus da família – que então era o tipo de lazer mais comum das pessoas de classe média – o garotinho teimoso (santa teimosia!) sentou-se ao piano e executou, sem cometer um único erro, com sensibilidade e beleza, o dificílimo “Concerto em Dó Menor”, do compositor Ferdinand Ries. Quem estuda música sabe que essa peça requer, acima de tudo, completa concentração e muita agilidade mental.

A performance do garotinho assombrou a todos, principalmente ao pai. Frise-se que, até então, Franz nunca tinha sequer brincado com o piano (se o fizera escondido, Adam jamais soubera). Ademais, o garoto (claro) não sabia ler a partitura. Ainda assim, executou a complexa peça de memória, inteirinha, sem a menor falha. Como explicar isso? Há alguma explicação? Qual?

É muito difícil descrever, ou até especular, sobre a emoção que o pai sentiu. Foi um misto de medo, orgulho, irritação pela desobediência do menino e, naturalmente, assombro. Profundo assombro! Todavia, naquela noite, Adam percebeu que não poderia evitar o inevitável. Raciocinou: “Se Franz quer ser músico, que o seja. Mas terá que ser o melhor”. E o garoto, quando cresceu, de fato foi o “número um” na sua especialidade. Tornou-se, reitero, um dos mais completos e melhores pianistas de todos os tempos, além de compositor não somente criativo, mas revolucionário.

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Gosto muito de música ao piano. É o mais nobre dos instrumentos. Não conheço esse autor, presumo, pois não associo seu nome a nenhuma música. Vou procurar Franz Liszt.

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