quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Toda maisena tem seu dia de mingau

* Por Fernando Yanmar Narciso

Já vivemos em um novo Brasil! O quê? Vai dizer que nem notaram? Ao acordar, não sentiram nada diferente, o ar mais leve e perfumado, os pássaros que ainda restam sobre as árvores entoando uma melodia mais atrativa que o habitual, nem mesmo um sorriso diferente das pessoas na rua? É compreensível, provavelmente estavam ocupados demais contando o dinheiro do lotação ou espremidos atrás do balcão, com os olhos fixos no relógio da parede esperando a jornada de trabalho acabar. Fato é, passamos a viver num país novo há alguns dias, mas foi uma mudança tão “tímida” e “sutil” que muitos de nós sequer a notamos.

Foram meses acompanhando aqueles ministros e advogados vestidos com a capa do Django, lendo, debatendo, acusando e condenando os antigos comandantes de nosso país no julgamento do mensalão. Para quem gosta de política- tem louco pra tudo no mundo- foi um deleite. Por muito tempo vivemos sob a regra do “Nós x Eles”. Sabemos que políticos adoram roubar. Só o ato de afanar uma moedinha de alguém deve fazê-los ter orgasmos múltiplos... Confessa! Mesmo que você, eu e o resto da nossa turma odiemos política e políticos, quem é que nunca se imaginou levando aquele vidão de marajá deles?

Sempre foram maiores, mais ricos, importantes e poderosos que qualquer um de nós, então quem somos para negar-lhes o prazer de ser desonestos? Acontece que nós somos a maioria esmagadora do povo. Pobres, sofredores e alguns de nós honestos, mas ainda em maior número que os milhares que ocupam cargos públicos. Nunca tivemos alguém disposto a lutar por nossa dignidade e nossos direitos, até agora.

O ministro Joaquim Barbosa, o homem do ano de 2012, levantou-se em nosso nome. Cidadão exemplar, esteve no colo dele o monumental dever de corresponder às vontades da população. Depois de dezenas de sessões, embates ferozes e defesas de advogados que não conseguiram dobrar ninguém, enfim temos o resultado. Toda a gangue dos PeTralhas foi considerada culpada por suas lambanças e podem ficar mais tempo presos que o Charles Manson. Agora só falta uma confissão direta e cabisbaixa dos réus arrependidos, o eterno ex-presidente Lula confessar seu envolvimento no esquema e que a galerinha sinistra devolva tudo o que roubou naquela brincadeira milionária para nossos devidos bolsos, mas aí já seria Alice no País das Maravilhas...

Sei o que vocês devem estar pensando agora. Julgamento, condenação, e daí? Minha vida ainda é uma piada sem graça, continuo ganhando, comendo e vivendo mal como sempre foi. Grande coisa terem punido trinta e poucos políticos... Ainda há milhares deles no lado errado da grade, roubando, extorquindo, mentindo e fazendo o povo de palhaço do mesmo jeito. Claro que esquemas do naipe do mensalão continuam existindo dentro e fora do Congresso e as quantias desviadas dos cofres públicos são cada vez mais obscenas, apenas sob cuidados de outros vigaristas mais espertos que os condenados. Pode até ser, porém, mais que para punir Zé Dirceu e o resto da Família Addams, os dois meses de julgamento serviram de exemplo para o povo, pois agora sabemos que não estamos mais sozinhos. A justiça funciona e entrega o que esperamos dela sim, mas só sob muita pressão- algo que, tenhamos fé, pode estar a ponto de mudar.

Basta que nos lembremos de uma coisa: se o escândalo nunca tivesse sido pintado em cores vivas por Roberto Jefferson, o ladrão mais patriota que já pisou em Brasília, nesse instante nosso país não seria governado por Dilma Rousseff, e sim pelo próprio Dirceu Addams, com o dinheiro de Marcos Funéreo financiando seu regime totalitário. A nuvem negra foi felizmente assoprada de volta ao Atlântico, ainda que não saibamos por quanto tempo. Palmas para o sacana do Jefferson e para os ministros do STF, sobretudo para o heróico Joaquim Barbosa. Feliz Brasil novo, compatriotas!

*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Pegou pesado como sempre, mas mostra claramente a sua indignação. Faz bem ao fígado.

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