quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Rock de subúrbio

* Por Fernando Yanmar Narciso

Conforme filosofou o grande brasileiro Seu Madruga, a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena... Mas dá um ibope danado!

Reconheço, assim como outros milhões de brasileiros, que fui “zumbificado”. Esse ano foi a década de João Emanuel Carneiro, Débora Falabella e Adriana Esteves. Não teve pra ninguém! Os três, a bordo do petardo Avenida Plasil, fizeram o povo brasileiro, a massa ignara, voltar a orbitar em torno de uma novela. Sete meses de tramóias ininterruptas, trambiques, facadas nas costas, assaltos, traições, sangue, morte, fantasia excessiva que não pegaria bem nem em Saramandaia e, no previsível final, quem teve de ser punido o foi e quem há de viver feliz para sempre assim o fará... Até que a primeira toalha molhada seja encontrada na cama. A trama foi doce e suave como suco gástrico, e intrigante do princípio ao fim. Mas como nada é perfeito...

No clássico faroeste de John Wayne No Tempo Das Diligências há uma grande batalha final entre um bando Apache e os passageiros da diligência conduzida por Wayne. Por mais absurdo que pareça, nessa perseguição os índios ficaram sem munição simplesmente por gastarem todas as flechas atirando na carroça. Quando perguntaram ao diretor John Ford porque ele preferiu isso a simplesmente que flechassem os cavalos, ilhando e matando os mocinhos, ele respondeu na maior cara-de-pau “Porque assim o filme acabaria”. Algo bem próximo disso foi presenciado pelo Brasil inteiro há poucas semanas. Na reta de chegada, JEC teve a coragem de chamar as dezenas de deslizes que cometeu durante a trama de “licenças poéticas”. Sei... E o nome do meu CENSURADO é Shirley.

Parece que depois do famoso capítulo 102, onde Rita virou a mesa em cima de Carminha, JEC se deu conta que os capítulos que faltavam para encerrar a trama não dariam para encher um chapéu, e foi tocando a trama adiante mesmo assim, empurrando as grandes e assombrosamente óbvias revelações com a barriga até que a verossimilhança evaporasse.

Quando a novela foi capa da Veja, tudo levava a crer que a grande vilã daria a volta por cima na semana seguinte, de maneira acachapante e magnânima como um rolo compressor atropelando um carrapato. Porém, Carneiro deve ter concluído que a forma como ele tinha realizado a desforra da “mocinha” foi tão bem amarrada que não havia possibilidade de uma revanche da Mulher de Branco. E o que ele fez? Provocou a revanche na marra. Cadê os co-autores quando se precisa de um conselho, poxa?

Sorte que, por causa da barriga, essa supervitória durou muito pouco, pois Max, o eterno amante de Carminha e, em minha opinião, a única razão para ela ser como era, fez em dois capítulos o que Rita passou a novela toda tentando fazer e, pasmemos, amarelou na reta de chegada. A meu entender, Carminha só fazia aquelas maldades todas para impressionar seu grande amor, que, no fundo, gostava de se deixar dominar por ela. Mas aí ela parou de dar esmola pra ele e isso arruinou a relação. Felizmente, o autor conseguiu se redimir nas últimas duas semanas. A cena mais esperada de toda a trama, onde Carminha enfim sentiu o gosto do próprio remédio, foi a maior audiência do ano em todos os canais, e o episódio que a antecedeu, exibido num sábado, foi a maior audiência de um sábado na história das novelas globais, e essa tendência se estendeu ao logo dos últimos capítulos.

O grande vilão da novela, que todos pensávamos ser Carminha, na verdade era o pai dela, Santiago, interpretado com vigor maniqueísta e caricato por Juca de Oliveira. Num golpe de mestre, Carneiro trouxe para a novela o Prof. Leigh Teabing, grande vilão do Best-seller O Código Da Vinci, encarnado no velhinho malandro. As semelhanças são mais que gritantes: Ambos deram as caras no meio da trama, mancam de uma perna, trafegam livremente por todos os núcleos da novela, são inteligentes, charmosos e dissimulados, despacharam personagens que sabiam demais e foram presos por motivos que quase ninguém entendeu.

Mesmo com seus inúmeros tropeços, Avenida Plasil esteve em evidência todos esses meses, foi sempre um dos assuntos tops no Twitter, e fez até quem nunca tinha dado muita bola para novelas se tornar um espectador assíduo. Eu não queria estar debaixo da carcaça de Glória Perez e sua nova trama, Salve Jorge, tamanho o pepino que será fazer o Brasil se esquecer do Clã dos Tufões, Carminha e Rita. Oi, oi, oi!


P.S: Respondendo à pergunta que não quer calar: Santiago, o velhinho FDP, conseguiu fugir da prisão e despistar a PF pela milésima vez. Agora ele vive escondido em Nuremberg e atende pelo nome Joseph Mengele. E ainda conseguiu surrupiar todos os milhões que Carminha desviou dos bolsos de Tufão enquanto foi casada. Pelo menos é o que dizem lá no Divino...


*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

2 comentários:

  1. Yeba!!!!! Sou uma sobrevivente! Não assisto mais novelas, mas gostei de seu texto principalmente do finalzinho. Oi, oi, oi!
    Abração amigo.

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  2. Ótimo apanhado geral. Passou como um bólido por sobre as falhas da novela, olhando critica e apaixonadamente.
    Parabéns!

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