quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O que não mata, engorda

* Por Mara Narciso

Milena, a minha mãe, dizia que a gente tinha o nariz sobre a boca para poder escolher bem o que se comia, não ingerindo alimento estragado e nem veneno. Ainda assim, de vez em quando comemos coisas que nos fazem adoecer por estarem mal conservadas. Mesmo com essa capacidade, andamos comendo veneno por toda uma vida. Caso margarina faça tão mal quanto dizem na internet, eu já morri, pois a coloco no pão diariamente, há cinquenta anos.

Mas a intenção não é falar de comida, e sim de impactos, grandes desastres, que nos fazem envergar. A nossa volta, há constantes dramas e tragédias, e vamos absorvendo-as no dia a dia, e nos acostumando a elas. As de longe e as de perto. Caso sejamos fortes e sábios, vamos seguindo os ditados populares: “fazer do limão uma limonada”. E quem é sábio mesmo, usa mecanismos psicológicos e ferramentas mentais para sobreviver bem. Quando o baque é grande demais, caímos, e ficamos sem forças nem coragem para nos levantar. Amigos nos dão as mãos e nos ajudam a ficar de pé. E vem a mente o verso “levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima”.

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, pois algumas vezes não há mesmo. E tem nos Evangelhos: “eu tudo posso, Naquele que me fortalece”. Não tenho nada de original para acrescentar ao óbvio, porém, me utilizo de uma técnica aprendida há mais de 20 anos no livro “Seus Pontos Fracos”, do Dr. Wayne W. Dyer. É de auto-ajuda, do qual extraí dois ensinamentos que me são muito úteis.

Segundo o Dr. Dyer, há dois sentimentos completamente inúteis: a culpa e a preocupação. Para ele, culpa é ficar paralisado no momento presente, sofrendo para tentar mudar o passado, e preocupação é a mesma coisa, porém buscando mudar o futuro. Bem se vê a inutilidade desse tipo de sentimento. Assim, procuro no dia a dia não gastar tempo com isso, pois, como disse o autor: “a gente sente o que a gente pensa e a gente pensa o que a gente quer”, não exatamente com essas palavras. E não é? Treino há décadas, e geralmente, quando estou entrando em parafuso, consigo segurar o pensamento, e lembrar-me de coisas positivas. Durante exames ou operações dolorosas, vou visitar um lugar bonito que trago na memória. Isso ajuda a vencer o pânico e a dor, e dessa forma, me livro de um sofrimento a mais que não me levará a nada.

Tenho tendência à preocupação excessiva com resultados de exames. Algumas vezes passei por medos que, ao final de algum tempo mostraram-se infundados. Não eram o que pareciam ser. Essas passagens são altamente ilustrativas, pois boa parte das pessoas nem vão ao médico e muito menos fazem exames, especialmente os homens, com medo de o médico descobrir alguma doença. De fato, se não houver, não será descoberta. No caso da nossa saúde, melhor a certeza do que é real, do que o medo de uma assombração. Encarar a realidade, dentro de termos e números verdadeiros, gasta menos energia do que ficar por meses sentindo uma espada sobre a cabeça, desafiando a Lei da Gravidade, prestes a nos cortar o pescoço. Ter confirmado um diagnóstico e começar um tratamento nos faz melhores, e não o contrário.

A Medicina Moderna, que me desculpe, mas há exames levemente alterados que constroem grandes doentes, que carregam aquele resultado nas costas como uma prisão. Os “doentes” chegam cabisbaixos, arrastando um exame que deu isso ou aquilo, e que pesa uma tonelada. Aquela imagem poderá não ter significado algum, e até não prejudicar a pessoa portadora, não de uma doença, mas de um exame alterado. Todos já viram imagens fantasma em ultrassom e em tomografia computadorizada, que não se revelam numa repetição. Ocorrem “incidentalomas” em 10% dos casos de tumor hipofisário na operosa e magnífica Ressonância Nuclear Magnética. Portanto, ela não é infalível, assim como quem a analisa não é perfeito, embora haja médicos bons demais em definir o que são essas imagens.

Repetindo, há dez dias, morre de calazar, cujo diagnóstico só foi feito no 20º dia de doença, Geraldo Quirino Dias Júnior, 33 anos, o filho da minha prima Márcia Prates. Abraçando-me com ela, impressiona-me a dor dessa mãe e o equilíbrio e raciocínio que ela consegue extrair dessa desgraça. Diante do fato, encho-me de coragem. Somos imbecis ao julgar os problemas pessoais como os mais importantes. Não posso ser mole, insegura ou medrosa. É bom viver cada momento a seu tempo, e todas as manhãs, levantar-me depressa, abraçar a vida e correr para ser feliz. Agir de outra maneira é burrice.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade” – blog http://www.teclai.com.br/

4 comentários:

  1. Bela lição de ponderação e bom senso, Mara. Também fico aflito com resultados de exames, meus e de entes queridos. O momento de abrir o laudo é sempre de imensa e sofrida expectativa...
    Um grande abraço e parabéns pelo texto.

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    1. Pois é, Marcelo, fazer o exame não é nada. Ruim mesmo é enfrentar o resultado. Quando há tratamento, já está bom. Ruim mesmo é quando não há o que fazer. Obrigada pelo comentário e suave atenção.

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  2. Concordo com você Mara, mas as pessoas sempre pecam pelo excesso, preferem os remédios do que adotar uma rotina mais sadia. Por exemplo, há quem não viva sem os moderadores de apetite. O comodismo, a bendita gula...enfim. Se cuidar mais deveria ser um hábito. Ótimo texto Mara. Abraços.

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    1. Obrigada Núbia, pela sua amável atenção. A Medicina Preventiva deve vir em primeiro lugar.

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