sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Entre o histórico e o lucrativo

A comparação que se faz entre o primeiro Rock in Rio, realizado em janeiro de 1985, na cidade que até hoje lhe empresta o nome, e Woodstock, é um tanto forçada e por uma série de razões. O evento levado a efeito em uma fazenda da pequena (na verdade minúscula) localidade rural de Bethel, no Estado de Nova York, nunca mais se repetiu. Já o festival, promovido pelo empresário brasileiro Roberto Medina, repete-se com regularidade, sempre atraindo grande público. Para se ter uma idéia do seu sucesso, basta dizer que, apenas na edição de 2011, foram arrecadados US$ 69 milhões só em patrocínios. Woodstock, apesar do seu caráter simbólico (mais isso do que qualquer outra coisa), deu prejuízo aos organizadores. Já o Rock in Rio se transformou em máquina de fazer dinheiro. Em contrapartida, sua importância histórica (sem nenhum demérito) é mínima, se não nenhuma. São coisas muito diferentes tendo em comum, somente, o ritmo que as caracteriza: o rock. É a comparação, portanto, entre o histórico e o lucrativo.

Se atentarmos bem, até o nome Woodstock é inapropriado. Por que? Porque o festival de 1969 não foi realizado nessa cidade, como estava inicialmente previsto. O motivo da transferência de lugar foi a inflexível oposição da população local, temerosa da presença de “jovens viciados e enlouquecidos” em seu território. Ademais, nem foi classificado, pelo menos oficialmente, de festival, mas de feira de música e arte. Ocorreu como resultado dos esforços de quatro empreendedores, que entraram com os recursos financeiros: Michael Lang, John P. Roberts, Joel Rosemann e Artie Komfeld.

Para complicar e desanimar os organizadores, o que se pretendia que fosse sua principal atração acabou sendo a primeira e grande frustração do espetáculo, bem antes dele ser sequer montado e realizado. Os Beatles, então no auge do sucesso mundial, foram convidados a participar do evento. Todavia, por razões nunca explicadas (alega-se que por falta de datas na agenda), os então inquietos e celebérrimos “garotos de Liverpool”, recusaram o convite. Aliás, as recusas foram muito além. Bob Dylan, Joni Mitchel, The Doors e Led Zeppelin, entre outros, igualmente não aceitaram marcar presença em Woodstock. Ainda assim, com mudança de última hora de local, com uma série de recusas de astros e estrelas de renome do rock, com a oposição das pessoas que temiam a presença desse bando de “hippies” em sua comunidade, o evento, realizado em três dias – 15, 16 e 17 de agosto de 1969 – entrou para a história como marco da contracultura. E foi de fato.

O “Woodstock Music & Art Fair”, nome oficial do festival, ocorreu na fazenda de 600 acres pertencente a Max Yasgur. Teve de tudo, menos conforto e organização. Para complicar e aumentar a balbúrdia, a promiscuidade e a sujeira no mega-acampamento em que a fazenda de Bethel se transformou, choveu no último dia do evento. Isso, porém, era o que menos importava àquela multidão rebelde que tinha por lema o tal da “paz e amor”. Nunca se chegou a um acordo sobre o número de presentes ao espetáculo. As cifras variam entre 50 mil e 500 mil pessoas. Os números citados, sejam quais forem, foram todos estimados, na pura base do “chutômetro”. Apesar de vários astros e estrelas haverem recusado convite para participar do festival, este ainda contou com a presença de 32 dos mais festejados e bem-sucedidos artistas da contracultura e não só do rock, mas do jazz, da música country e de outros tantos ritmos.

Por uma questão até de registro histórico, faz-se necessário declinar quais cantores, instrumentistas e conjuntos se apresentaram. No dia 15 de agosto de 1969, uma sexta-feira, o público pôde vibrar com Richie Havens, Swamm Satchidananda, Sweetwater, The Incredible String Band, Bert Sommer, Tim Hardin, Ravi Shankar, Melanie, Arlo Guthrie e Joan Baez.

No sábado, dia 16, foi a vez de Quill, Keef Hartley Band, Joe McDonald, John Sebastian, Santana, Canned Heat, Mountain, Grateful Dead, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin com a Kozmic Blues Band, The Who e Jefferson Airplane.

Finalmente, no domingo, dia 17, apresentaram-se, sob uma chuva fina e persistente, The Grearse Band; Joe Cocker; Country Joe and the Fish; Ten Years After; The Band; Blood, Sweat & Tears; Johnny Winter e Edgar Winter; Crosby, Stils, Nash & Young; Pasul Butterfield Blues Band; Sha-Na-Na e Jimi Hendrix.

As drogas e o sexo rolaram livres naqueles três dias de fantasia, loucura, excessos e desrecalques. Ali, naquele local e naqueles dias, tudo era permitido. Foi o auge da permissividade do século XX. Vigorava a regra de que era “proibido proibir”. Por falar em drogas, estas viriam a matar, apenas um ano depois, as duas maiores atrações de Woodstock: Jimi Hendrix, encontrado morto, no dia 19 de setembro de 1970, em Londres, quando fazia uma contestada turnê pela Grã-Bretanha, vítima de overdose e Janis Joplin, que morreu em 4 de dezembro de 1970, num quarto do Landmark Hotel and Apartment, em Los Angeles, considerado o paraíso de Hollywood pelos artistas do rock.

Foram inúmeros os artistas consagrados, ou apenas promissores, que morreram em decorrência do excesso de consumo de cocaína, morfina, ópio, ácido lisérgico, conhecido como LSD e várias outras substâncias, alucinógenas ou não.

Os três dias de shows foram encerrados, num delírio, levando os presentes ao paroxismo, por Jimi Hendrix. O roqueiro, como era seu costume, destruiu, ao cabo da derradeira música da sua seleção musical, os amplificadores de som do palco. Mas fez isso sem deixar de dedilhar a guitarra, furiosamente, que, após vários minutos de habilíssima execução, finalmente, também despedaçou, sob gritos, aplausos e apupos generalizados. Anos depois, essa prática viria a ser imitada por muitos roqueiros, entre os quais Pete Townshend e Keith Monn, do conjunto The Who.

Para se comparar Woodstock com Rock in Rio é necessário contextualizar os dois eventos, realizados em épocas com realidades políticas, econômicas e sociais bem diversas, tanto em 1969 nos Estados Unidos, quando e onde o primeiro ocorreu, quanto em 1985 no Brasil, quando e onde o segundo foi realizado, o que me disponho a fazer na sequência, por propiciar empolgante estudo sociológico.



Boa leitura

O Editor.


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2 comentários:

  1. "Sexo drogas e Rock'n'Roll" é um grito de guerra libertário. Ficou, além da história, a fama.

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  2. NATÁLIA CAMPOS, NASCE UMA ESTRELA...
    Natália Misael Campos, 12 anos, moradora do Bairro Santa Luíza, é um talento nato. Com muita garra e simplicidade, a primogênita do casal Aline Souza Misael e Ivan da Silva Campos Jr., interpreta com louvor as canções de sua artista favorita: Aline Barros.
    Esta pequena estrela começou a cantar nos cultos realizados na 5º I.P.I de Machado. Seus pais ficaram surpresos ao presenciar sua melodia encantar a todos.
    Natália era aluna do C.A.I.C, e por indicação de uma amiga, foi convidada pela diretora Jomara Caproni para representar a escola num evento natalino, realizado na Praça Central, em 2010.
    Acompanhada ao violão pelo professor de Educação Física, Natália foi muito aplaudida.
    Em meados deste ano ela marcou presença na TV Amaral (canal online) da capital de São Paulo, e na “Pré-Marcha Para Jesus”, em Machado.
    Seu maior sonho é gravar um CD com músicas próprias, e amadurecer cada vez mais a sua voz. Por isso seus pais estão em busca de alguém que possa patrocinar (investir em) seu talento musical.
    “O caminho é longo e cheio de espinhos, mas com fé em Deus, vencerei”, disse.



    Vídeo “Ressuscita-me” (interpretado por Natália)
    http://www.youtube.com/watch?v=FVdkaMVm6Rc

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