quinta-feira, 19 de julho de 2012

Me dá um autógrafo?


* Por Marcelo Sguassábia


O maior colecionador de autógrafos da cidade de Antuérpia vivia, estranhamente para alguém de quem se esperaria hábitos de paparazzo, como um ermitão em sua casa de 4 cômodos - um deles reservado exclusivamente ao seu imenso acervo. Ao todo eram mais de cinco mil. Não autógrafos, mas categorias de. E estas eram cada vez mais específicas. Cantores, por exemplo, eram separados em canhotos e destros, loiros e morenos, acima e abaixo de 1,70 m, com ou sem sinais evidentes de anomalias anatômicas, circuncidados ou não.

Uma das categorias mais bizarras era a de "Obstetras de Celebridades", onde se elencavam o autógrafo do médico responsável pelo parto de Idi Amin Dada, o ditador facínora de Uganda, e o da parteira de James Dean, uma ruiva nascida no Estado de Massachusetts. Dizia ele que, na impossibilidade de conseguir o autógrafo de grandes personalidades, não menos significativo seria obter a assinatura daqueles que trouxeram tais figuras ao mundo, para o bem ou para o mal.

O fato de ser natural de Antuérpia, referência mundial na lapidação de diamantes, rendeu a ele o autógrafo do sobrinho-neto de Antoine Salisantè, assistente do lapidador que deu a forma final a um dos mais belos topázios de Elizabeth Taylor. A gema pode ser admirada em belíssimo colorido cinemascope nos vinte minutos finais do filme Cleópatra, estrelado pela atriz e grande sucesso do ano de 1963.

O terreno religioso reserva alguns dos mais preciosos exemplares da coleção. Como o de uma mulher, Genoveva, descendente da quadragésima nona geração de São Dimas - também conhecido como "O bom ladrão", aquele criminoso crucificado ao lado de Jesus Cristo e que se converteu minutos antes do suspiro final. Outro autógrafo raríssimo é o do responsável pela emissão do atestado de óbito de Albino Luciani, o Papa João Paulo I, morto após 33 dias de pontificado em circunstâncias mais do que suspeitas.

Destaque especial merecem as categorias “Maquinistas de Trem” (223 autógrafos), “Mendigos” (397) e “Gandulas” – setor da coleção subdividido em “Gandulas de jogos terminados em empate”, “Gandulas de jogos terminados em cobranças de pênaltis” e “Gandulas de jogos televisionados pela RTP – Rádio e Televisão de Portugal”.

Sabe-se que o acervo ganhou importante incremento quando de uma exposição de Andy Warhol em Nova York, no início dos anos 70. Na ocasião, nosso incansável colecionador matou dezenas de notáveis coelhos com uma cajadada só, ao conseguir roubar o livro de visitas do evento. Nele constavam nomes de primeira grandeza, como John Lennon, Robert de Niro, Mario Puzo, Ted Turner e Muhammad Ali. As páginas com as assinaturas célebres foram cuidadosamente retalhadas com estilete; uma vez subtraídos todos os nomes que interessavam, e mais parecendo um queijo suíço, o livro foi devolvido aos organizadores da exposição.

No momento, dedica-se o nosso herói a buscar os autógrafos de James Watt, Alessandro Volta e André-Marie Ampère, vultos que emprestaram seus nomes ao universo da eletricidade, cunhando respectivamente os tão utilizados termos Watt, Volt e Ampère.

• Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).

2 comentários:

  1. Creio eu que existe doido pra tudo. Eu particularmente
    jamais fiquei em frente ao Projac tentando alguma assinatura, mas
    há quem fique. Imagina, encontrar num lixão da vida as unhas do
    Zé do Caixão por exemplo, se bem que, acho que estas estão bem guardadas
    que nojo…
    Muito legal Marcelo! Abração.

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  2. Além de adquirir novos conhecimentos, ler seus textos é garantia de diversão, Marcelo. Brinca com o absurdo e nos faz rir.

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