quarta-feira, 25 de julho de 2012

Fidelidade à Justiça

O filósofo grego Heráclito observou que “a verdadeira sabedoria não consiste em aprender muitas coisas, mas em descobrir a única que as regula a todas, em todas as ocasiões”. E essa “ciência das ciências”, na minha concepção, é o Direito e mais, a administração da Justiça, que impede o forte de subjugar (e até de destruir) o fraco e que sanciona, com punição prevista em lei, quem ousa fazê-lo. Esta é a tarefa que cabe aos juízes.

Que tremenda responsabilidade, pois, pesa sobre os ombros desses homens! Julgar um ser humano que transgrediu alguma norma legal, que agrediu um semelhante (por palavras, ações ou até omissões), que se apropriou indevidamente de algum de seus bens ou que (supremo delito) suprimiu uma vida (ou várias) sem ser para, legitimamente, preservar a própria, não é tarefa para qualquer um. Exige, de quem a exerce, além de profundo conhecimento das leis, notadamente do espírito que norteia cada uma delas, serenidade, objetividade, completa isenção e muita ponderação no momento de julgar, pesando todos os motivos e avaliando as atenuantes e agravantes da causa que levou o réu a delinqüir.

Respeito demais quem é encarregado de tamanha tarefa. Como abomino quem não a exerce com tirocínio e honestidade, deturpando o sentido de Justiça. É preciso muito, muitíssimo bom senso no desempenho dessa crucial missão. Quando um juiz, além de exercer com proficiência esse mister, também é poeta, que sabe ver além das aparências, os parâmetros que norteiam minha escala de valores levam minha admiração e respeito ao clímax: a beirarem à humilde reverência.

Conheço um juiz assim, hoje aposentado da magistratura, após brilhante e louvável carreira. E não apenas o conheço, como tive o privilégio de privar da sua amizade e de aprender muito com ele, principalmente no que se refere ao respeito pelo ser humano e à compreensão (e compaixão) pelas suas fraquezas e imperfeições (que, ademais, também são as minhas)_. Refiro-me ao doutor Francisco Fernandes de Araujo.

Faço questão de registrar este depoimento público enquanto (ainda) posso fazê-lo. De nada adianta a gente admirar e gostar de alguém se quem é alvo dessa estima e admiração não tem ciência delas. Admiro-o não somente como o juiz correto e justo, que sempre foi, mas também como lúcido e generoso homem de letras.

Tenho em mãos, por exemplo, seu livro de poesias “Filigranas poéticas”, lançado em 1993, que já li por várias vezes. É preciso destacar que não foi o único que escreveu e que publicou. E muito menos exclusivamente nesse gênero. Pelo contrário, sua obra literária ascende a algumas dezenas de volumes, abrangendo, além da poesia, romances, ensaios, crônicas e reflexões. Tratarei, oportunamente, de alguns deles.

O filósofo francês André Comte-Sponville, num texto que li recentemente, indaga à certa altura: “O que seria da Justiça sem a fidelidade dos justos, da liberdade sem a fidelidade dos espíritos livres ou da verdade sem a fidelidade dos verdadeiros?” São essas pessoas, muito especiais, que mantêm as instituições funcionando, mesmo que sem a perfeição desejável. Sem elas, porém, sequer funcionariam. São elas que impedem catastróficos retrocessos no relacionamento social.

O juiz-poeta, que prestou seus inestimáveis serviços à comunidade de Valinhos (entre outras tantas), cidade integrante da Região Metropolitana de Campinas, onde por quatro anos consecutivos foi escolhido como a “Personalidade do Ano”, tinha uma peculiaridade no exercício de sua função, que o tornou muito conhecido em todo o Estado de São Paulo. Emitia suas sentenças , sábias, sensatas, humanas e justas, repletas de fé na capacidade de regeneração do homem, em versos.

Notável era seu senso de solidariedade com as pessoas. Tanto é que a renda dos direitos autorais da totalidade das suas dezenas de livros ele as doou para diversas instituições de caridade da região. No soneto v”As estrelas da cidade”, do seu livro que tenho em mãos, “Filigranas Poéticas”, o doutor Francisco Fernandes de Araujo acentua:

“Bendigo o homem que dedica a vida
ao seu irmão que abandonado está,
por ser pequeno e ainda sem guarida,
ou já velhinho e vive ao deus dará.

Bendigo aquele que dedica à urbe
seu braço forte para o bem comum,
caminha firme, sem que se perturbe
e não se abate com problema algum.

Bendigo o nome dessa gente boa
que todo dia dá de si, se doa
são almas nobres e de grande porte.

olhando neles eu descubro Deus,
Que maravilha, são amigos meus,
aos quais desejo muito boa sorte.”

É este senso de solidariedade, de preocupação com o próximo, de vontade de servir, em vez de ser servido, que está escasseando neste período paradoxal em que a tecnologia avançou de tal sorte que opera maravilhas, mas que o homem regride, em termos de relacionamento, quase à irracionalidade.

O trabalho maiúsculo desse exemplar homem público, que se constitui num poema maiúsculo, é a sua vida, carregada de bons exemplos. O doutor Lair Ribeiro observou, num de seus livros: “O segredo do bom comunicador não é ser interessante: é ser interessado”. Por este parâmetro, no de comunicação, o juiz-poeta, Francisco Fernandes de Araujo, é mestre, e mestre com louvor.

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Gostei de você ter escrito o nome do poeta por três vezes, Pedro. Assim a homenagem fica mais completa, com a oportunidade do leitor fixar melhor o nome do Poeta/Juiz: Francisco Fernandes Araújo.

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