quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tribunal das ruas


* Por Fernando Yanmar Narciso

A situação política do nosso país é, foi e será uma depravação. Logo o PT, os antigos cachorros bravos da oposição, que adoravam afundar o indicador no meio da testa do governo e chamar todo mundo de ladrão e sem-vergonha, aposentaram a retidão assim que chegaram ao poder. A patota sinistra aprontou tanto que quase fez Collor e PC Farias parecerem querubins. Mas só quase.

Ninguém mais tem ânimo para se engajar “em nome de um bem maior” como Lula e Cia. fizeram no passado. Eu que o diga, afinal passei longos anos de minhas infância e adolescência fazendo piquete e boca de urna em porta de colégio, agitando a bandeira da estrela escarlate e levando catarrada da oposição, e agora quero mais é distância de nossos grandes heróis. Em nossos ingênuos delírios, víamos tudo diferente quando Lula recebeu a faixa presidencial. Sairiam pétalas de rosa da torneira, se espremêssemos uma espinha, sairiam diamantes, Cristo apareceria todo dia ao nascer do sol. Tá certo, admito que muitas coisas boas aconteceram ao país nos últimos dez anos, mas tudo o que era ruim ou continuou como estava ou piorou.

Pelo menos esse imenso tsunami de ladroagem que vem engolindo o país desde 2005 serviu para nos amadurecer. A idéia de maniqueísmo político, representada por direita e esquerda, bem e mal, nós e eles, deixou de existir assim que nossos heróis se deram conta que, para manter o governo funcionando, era necessário usar as mesmas armas “deles”.

Mas se o engajamento político não mobiliza mais as massas como antigamente, o que nós, pobres sofredores, podemos fazer além de ficar de quatro enquanto eles fazem o trabalho sujo?

Estamos irremediavelmente à mercê de todos eles. Decidem em quem votamos, com quem nos decepcionaremos, as leis que arrebentarão com nosso santo saco e quem vai pagar o pato na próxima CPI. Quem quer ter boas aulas de teatro sem pagar um tostão deve dedicar algumas horas de seu dia à TV Câmara.

Na boa, quem eles pensam que estão enganando quando sabatinam o bode expiatório da vez no banco de réus? Ninguém, absolutamente NINGUÉM naquele salão, tem moral para acusar o próximo. Mas, sabem como é, a sociedade precisa pensar que algo está sendo feito para deixar nossa submissão menos intolerável. O que eles fazem naquele tribunal quando dizem estar defendendo os nossos interesses não passa de um show de mágica, e sabemos muito bem que somos nós que seremos serrados ao meio quando desligarem as câmeras.

Creio eu que políticos corruptos têm uma relação sado-masoquista com a população e consigo mesmos. O comportamento deles não tem outro nome, é psicopatia. Não há a menor chance desses caras não terem consciência que o que fazem é errado e prejudica todos em sua volta, e que podem ser pegos com o censurado na mão a qualquer momento. Mas preferem seguir adiante com a roleta-russa pelo bem da adrenalina. É o tipo de gente que, quando crianças, mesmo tendo estudado, colavam em todas as provas porque era mais emocionante.

Como eu sempre digo, antes de mudar o governo, é necessário mudar os governados. Qual é a utilidade de reunir alguns milhares numa passeata de protesto em Brasília, entoando cânticos patrióticos e usando a máscara V de Vingança se, quando tudo terminar, o manifestante tentar passar a perna no trocador do ônibus na volta pra casa? Não é certo cobrar dos outros uma coisa que você mesmo não pode oferecer.

O problema de Dick Vigarista e Cia. é que eles não têm nada a temer. Já se escondem atrás do microfone com a impunidade garantida. O que deveria ser feito é estabelecer três coisas no país: Júri popular para qualquer caso de irregularidade administrativa e estabelecimento de prisão perpétua e corredor da morte em nossas prisões.

Apenas quem não tem nada a ver com política nem rabo preso tem capacidade de chegar a um veredicto justo. Queria ver afanarem uma moedinha que fosse de qualquer um, sabendo que a vida atrás das grades os espera, sem nenhuma chance de condicional. Melhor ainda, que servissem de exemplo para os outros colegas de cárcere, sendo condenados à morte, e que os sons de sua agonia ecoassem por cada pavilhão da prisão como um sinal de alerta. “Querem ser os próximos? Então continuem assim, companheiros!“

*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

2 comentários:

  1. Vergonhoso, mas o pior Fernando é essa sensação de frustração, de querer crer e não ter para onde olhar.
    Concordo que não é certo cobrar dos outros algo que não possamos oferecer, o problema é que as pessoas fazem comparações com os grandes tubarões
    banalizando seus pequenos delitos.
    Ótimo texto Fernando.
    Abração

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  2. Um texto que mexeu fundo com nosso brios. Acredito que tenha se entusiasmado e acabou pedindo pena de morte. É um exagero, certamente, ainda assim, desejo penas mais duras para quem nos rouba com a cara mais limpa do mundo.

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