quinta-feira, 17 de maio de 2012

Viajar é se despedir...


* Por Gustavo Pilizari

Uma das coisas mais prazerosas que você pode fazer na sua vida é uma boa caminhada com vagar, observando, aleatoriamente, as vidas que passam por você e todas as arquiteturas despretensiosas que marcam uma cultura...

E digo uma coisa: a melhor forma de você explorar o seu “eu” interior e o “outro” é durante uma viagem...

Refiro-me a qualquer viagem!

Viagem à cidade ao lado, ao campo, vila ou fazenda; num destino nacional ou distante de seu eixo - internacional... o importante é ir além de seu espaço de conforto para você poder sentir sua carcaça... você é sua própria bagagem existencial!

Parece besteira, mas não é!

Poucas pessoas realmente sabem o poder de uma viagem, de um olhar fora de seu quarteirão, de sua cama e além da visão oblonga da curvatura de sua xícara de café!

Atravessar mares e desertos, montanhas e cânions, enfrentar o calor de estralar ovos e o frio de congelar os ossos, a ponto do xixi virar cubinhos de gelo é algo maior, que vai além do próprio ato de viajar... é algo de desbravamento com a gente mesmo, de curiosidade desmedida por uma satisfação corporal e mental... é um último olhar...

É fácil entender: acho que por sabermos ser apenas uma poeira que deu certo no universo, e ao mesmo tempo, por termos noção de que sairemos de súbito deste palco chamado vida, algo nos faz querer viajar com a involuntária e inconsciente necessidade de se despedir de tudo...

Temos receio e medo de passar uma vida toda sabendo que fomos tão egoístas a ponto de não termos cumprimentado a vida existente nos diversos lugares deste planeta tão pequeno!

Antes do ato mecânico de viajar, a gente quer, no fundo, se despedir: se despedir do iluminado sol, dos flocos de neve, da chuva calma, das flores sorridentes nos vastos jardins... a gente se despede de pessoas que nunca conheceu, no entanto, conhecendo, sabe que, possivelmente, nunca mais verá novamente... a gente se despede de lagos, rios e mares, atravessamos pontes balançando as mãos como forma de aceno àquilo que virá em seguida, mas, tão logo, deixando para trás coisas que talvez nunca mais vejamos... Viajar é se despedir... se despedir da gente mesmo...

Se eu pudesse deixar um conselho para as futuras gerações, eu apenas escreveria num livro de mil páginas a mesma palavra em letras garrafais: VIAJE!

Não importa o destino: ande despretensiosamente pelos corredores de paisagens quentes terrosas ou friamente depressivas, pois só assim você poderá ter sentido a vida em todas as suas formas, cores e cheiros... nada melhor do que sentir uma lufada de ar gelado nos pulmões, nada te dá mais arrepios do que tal situação: cada célula do seu corpo parece se abrir para receber a vida; é um aplauso corporal o qual ninguém poderá sentir por você: apenas você tem o seu corpo para usá-lo da melhor forma e, a melhor forma é viajando!

Caminhe pela vida, como se cada piscar de olhos fosse o último, baile pelas ruas das cidades ouvindo dentro de você aquela canção que mais gosta, esbanje um sorriso largo e veja como ser você é maravilhoso... comece viajando para sua cidade vizinha e quando menos esperar estará voando tal uma gaivota...

Se você pode voar, voe mais alto, plaine pela vida e percebe como do alto tudo é azul... e tudo também é uma despedida...

• Jornalista

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