terça-feira, 15 de maio de 2012

Autoconhecimento


* Por Evelyne Furtado

Conheço-me quando percebo que não me conheço tanto assim, quando me descubro em um novo estado ou quando avalio de outra forma o passado.

Conheço-me quando autentico gestos ousados ou quando já não me identifico com passos dados, nem com versos nos quais não vejo graça ou nexo.

Conheço-me na penitência dos erros de ontem, na esperança do amanhã e na aceitação de hoje.

Continuo o autoconhecimento quando me abraço inteira: pétala e espinho.

Conheço-me na perturbação que me assalta ao descobrir que a vida a pele afaga, mas também a carne rasga.

Conheço-me quando me assusto pela distância percorrida e quando me canso antes da partida.

Conheço-me quando a minha face contrai-se diante de outra vontade tão legítima quanto a minha.

Conheço-me quando tento entender a realidade sem perder de vista a fé que me sustenta.

Conheço-me quando descubro em mim razão e era tão mais fácil acreditar ser apenas emoção.

Conheço-me quando me refaço a cada dia, integrando uma informação nova ou alcançando um ponto de vista diferente.

Por fim, conheço-me quando me rendo a um carinho, quando namoro o mar, quando cultivo uma flor e, principalmente, quando sei que o processo não termina aqui.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

2 comentários:

  1. É bom e reconfortante ter esta "ciência" de si mesmo. Um dia eu chego lá... Parabéns pelo texto, amiga Evelyne.

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  2. Que delícia de poema, Evelyne. Gostoso de ler e de pensar.
    Destaco: "Continuo o autoconhecimento quando me abraço inteira: pétala e espinho." Verso inesquecível, pois que temos o mau costume de fecharmos os olhos para os nossos defeitos. Odiamos quem os identificam, dai a grandiosidade do verso. Adorei!

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