domingo, 29 de abril de 2012

Utopia democrática


O fracasso do comunismo no Leste europeu, que redundou no fim da União Soviética e na luta selvagem e suicida que se verificou em seguida, em muitas de suas ex-Repúblicas e, notadamente, na antiga Iugoslávia, pelos seus miseráveis espólios, ocorrido no início dos anos 90 do século passado, foi comemorado, em alguns círculos acadêmicos, como "vitória da democracia sobre o totalitarismo". Será que foi?!



Alguns, mais realistas, preferiram caracterizar a dèbacle comunista como a prevalência, pura e simples, do capitalismo. Mas será que o mundo tem, de fato, o que comemorar? A liberdade, por exemplo, já deixou de ser conceito vago e retórico, para se constituir em prática consagrada entre os povos? Somos livres? Há quem o seja, literalmente?



O capitalismo triunfou mesmo? E, caso tenha triunfado, é coisa para ser comemorada ou é desvio a ser corrigido? O que dizer das sucessivas crises econômicas em um mundo globalizado? Há esperanças concretas de que, pelo menos em longo prazo, a humanidade conseguirá uma forma civilizada de convivência em que o homem não mais irá explorar o homem e nem lhe impor pesados e intoleráveis jugos? É questão para se refletir, e bastante. Mas, estamos refletindo a propósito? Temo que não. Aliás, ouso afirmar: não, não estamos!.



Objetivamente, não há a mínima indicação de que em alguma parte do mundo se esteja caminhando para esta utopia, este sistema ideal, esta nova "idade de ouro", de igualdade, fraternidade e justiça social, que tantos têm sonhado por tanto tempo. Pelo contrário, o que existe são ameaças sobre ameaças, vindas de todos os lados, cada uma mais iminente e mais pavorosa do que outra.



É bom que não se perca da mente o fato de que a comunidade internacional detém, ainda, a exemplo do que ocorria no auge da chamada Guerra Fria, gigantesco arsenal nuclear, capaz de pulverizar vários planetas do porte deste, em questão de minutos. Qualquer descuido, o mínimo instante de loucura e/ou de ira, um acidente imprevisto e não evitável (como são, aliás, todos os acidentes) e... bum! Vai tudo pelos ares! E adeus civilização! Adeus sonhos e ideais! Adeus humanidade! Adeus vida no planeta Terra!



Para complicar bastante as coisas e agravar ainda mais os riscos, parcela considerável do monstruoso arsenal nuclear está em mãos não confiáveis (existe alguma que seja confiável?), à mercê de nacionalistas fanáticos e talvez despreparados para encarar a realidade contemporânea. Existe o risco, e nem um pouco remoto, de em meio às agruras financeiras, estas frágeis e inconstantes "lideranças" se desfazerem secretamente de algumas bombas, em troca de um punhado de dólares, e que esses artefatos acabem parando em mãos ainda mais imprudentes e irresponsáveis, como as dos terroristas de grupos como a Al-Qaeda ou similares, por exemplo, ou nas de qualquer ditador, acostumado a encarar a vida humana como tendo único propósito: o de servir aos seus megalomaníacos objetivos.



Jean-Paul Sartre, por exemplo, contestou o nosso entendimento (até dogmático) sobre o que venha a significar um sistema democrático genuíno. Em entrevista concedida na década de 70 do século XX, observou: "A palavra democracia tem um sentido que caiu por si mesmo em desuso. Etimologicamente, é o governo do povo. Ora, é evidente que, nas democracias modernas, não há povo para governar, porque o povo não existe. Havia um povo sob o antigo regime e em 1793; não há mais povo atualmente, porque não se pode chamar de povo homens completamente individualizados pela divisão do trabalho, sem outra relação com outros homens que a profissional, e que, a intervalos de cinco, seis ou sete anos, fazem um ato bem preciso que consiste em ir apanhar um pedaço de papel com nomes impressos e enfiar esse papel numa urna. Não considero que haja poder do povo nisso". E por acaso há?!



Compete aos intelectuais, às cabeças pensantes, aos genuínos formadores de opinião – jornalistas, escritores etc. – trazer à baila estes temas, para que, do debate a propósito, possam emergir soluções. O que não se pode é deixar as coisas como estão e como sempre estiveram. O Planeta, cada vez mais judiado, poluído e depredado, pede socorro. A humanidade pede socorro! A vida grita por socorro! Desgraçadamente, ninguém lhes dá ouvidos.



Os recursos naturais caminham celeremente para o esgotamento, em decorrência, principalmente, do desperdício, o que tende a paralisar as máquinas produtivas mundiais, com conseqüências imprevisíveis, mas certamente catastróficas. Os solos férteis, cada vez mais escassos, tendem a se esgotar e a população não pára de crescer (já somos 7 bilhões de habitantes num Planeta com relativamente pequeno espaço aproveitável) o que, conforme a mínima das lógicas sugere, mais cedo ou mais tarde irá resultar em tragédia ainda maior: na da fome generalizada. As fontes de água potável, substância imprescindível à vida, escasseiam e são estupidamente contaminadas e poluídas, como se esse ato não trouxesse conseqüências danosas. Mas... traz! E que conseqüências!

Este é, pois, o momento crítico, da conscientização – tornada bem mais fácil dado o aparato tecnológico das comunicações – mas, e principalmente, é o instante da ação: inteligente, urgentíssima e eficaz. A humanidade encontra-se na encruzilhada de múltiplos caminhos. Um único é o correto, capaz de levá-la à tão sonhada paz e a uma era de felicidade buscada por gerações e mais gerações.



É esta a vereda, no entanto, que se precisa, sem dogmatismos ou preconceitos, procurar incansavelmente e, quando (ou se) encontrada, ser trilhada, imediatamente e sem hesitações. Encontrá-la, reitero e enfatizo, é que são elas! Essa conscientização – quer admitamos, quer não – é também papel e tarefa nossa, de escritores, se é que não seja (e tenho a intuição que sim) nossa principal e até possivelmente única responsabilidade.



Boa leitura.



O Editor.

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Um comentário:

  1. Formar opiniões pode até ser, mas salvar o planeta é muito até para a própria humanidade. Escritores e jornalistas são um pequeno grupo, com voz e poder limitados. Espero não estarmos perdidos.

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