sexta-feira, 20 de abril de 2012







O rei

* Por Jair Lopes

Na Espanha, em decorrência da eleição de um parlamento socialista, em 1936 militares fascistas iniciaram um movimento para depor o governo, o que resultou numa cruenta guerra civil que terminou em 1939, com mais de um milhão de mortes, a queda do governo e assunção do general Franco como dirigente do país. Da guerra o que resultou de mais tétrico no imaginário mundial foi a destruição da cidade de Guernica. No dia 26 de abril de 1937, o povoado de seis mil habitantes foi bombardeado pelos aviões da Legião Condor da Luftwaffe alemã, em apoio às forças nacionalistas do general golpista Francisco Franco, nada sobrou, velhos, mulheres e crianças foram dizimados, os homens, na sua maioria, encontravam-se combatendo nas trincheiras. Desse massacre resultou talvez a obra mais emblemática de Picasso, Guernica, um painel pintado por ele, por ocasião da Exposição Internacional de Paris. Naquela fase histórica o fascismo havia assumido o poder na Itália com Mussolini em 1922, e na Alemanha, desde 1933, quem mandava era o nazismo de Hitler. Portanto, a Espanha e seus golpistas de plantão, se sentiam integrados a uma tendência européia daqueles tempos.

O ditador, chamado generalíssimo Franco, governou a Espanha com mão de ferro que não admitia oposição, seu mando absoluto e brutal, no qual fez uso do medieval e execrável garrote vil como instrumento para aplicação de pena de morte aos adversários, durou até 1975, ano em que a besta faleceu. Diante da vacância do poder e desestruturação social, do caos econômico e da mordaça política do país, em 1977 o primeiro ministro Adolfo Suarez convocou uma reunião com todos os líderes políticos, religiosos, sindicais e classistas com vistas a apaziguamento dos ânimos e encontro de um denominador comum que visasse o bem da pátria. Celebrou-se um acordo suprapartidário envolvendo todas as forças vivas do país. Esse acordo se chamou Pacto de Moncloa porque foi assinado no palácio com esse nome. O rei Juan Carlos foi entronado como uma espécie de mediador, cujo papel principal era amortecer os choques entre as facções antagônicas e servir de referência de estabilidade política. Esse monarca tampax que evitava sangramentos desnecessários funcionou bem, desde então a Espanha se tornou a oitava economia do Planeta.

Apesar dos graves problemas econômicos pelos quais passa o país nesta segunda década do milênio, a Espanha continua estável politicamente e não há qualquer vislumbre de golpes ou quarteladas no horizonte, situação e oposição convivem em harmonia na República. O rei continua decorando a República e esta continua pagando caro por esse adorno. Agora lemos a notícia que o rei Juan Carlos sofreu um acidente em Botsuana enquanto caçava elefantes, e que a viagem foi paga com dinheiro do contribuinte. Sei que alguns dirão que caçar elefantes em Botsuana é legal, mas lembremos nem tudo que é legal é moral ou justo e politicamente correto, pelo contrário, muitas leis contêm vícios redibitórios de nascença.

Então vejamos, o rei foi convocado num momento de virada sensível do país e já cumpriu seu papel. A Espanha curou-se das horrendas cicatrizes do franquismo e está saudável. O rei que é presidente honorário da World Wide Fund for Nature (WWF), "Fundo Mundial para a Natureza" gosta de caçar elefantes e está se lixando para a natureza. O mundo só ficou sabendo desse hobby real porque o rei sofreu um acidente (literalmente caiu do cavalo) enquanto praticava seu “esporte” predileto e agora se deu conta que os espanhóis estão mantendo um luxo perfeitamente dispensável. Também se sabe agora que o rei mantém uma namorada – uma princesa alemã – há muito tempo e que esta se encontrava caçando com ele por ocasião do acidente. E o que é pior, o mundo e a Espanha se deram conta que o rei é um objeto de decoração caro demais e sem qualquer serventia. Algo assim como ter na parede um Van Gogh falso que custou milhões.

Diante disso, quero dar meu não solicitado pitaco. Considerando que os espanhóis têm sangue quente e não costumam levar desaforo para casa: que esse rei démodé seja deposto e responda pelo delito de matar animais selvagens. Sugiro que sua pena seja de fazer faxina em jaulas de elefantes pelo resto de seus dias. Acredito que ao ver-se envolvido com os excrementos desses animais esse monarca rufião terá tempo de refletir sobre a merda que fez.

• Escritor, autor dos livros “O Tuaregue” e “A fonte e as galinhas”.

Um comentário:

  1. Há poucos dias Nei Duclós postou no face um pequeno texto que estava relacionado com as aventuras desse "nobre" rei, cujos atos são torpes
    cruéis, mesquinhos e insanos.
    Ótimo texto.

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