terça-feira, 17 de abril de 2012







O homem com quem ninguém se preocupa

* Por Talis Andrade

A vida uma encenação
farsa que represento
sem a mínima vocação -
o reprisado enredo
de escapar ileso

A vergonha o medo
me vejam
driblando a fome
me julguem
pelos (ul)trajes

a bata
de professor
suja de giz

o lavado terno
a gravata
em que se enforca
o funcionário público

o engomado terno
passado a ferro
das entrevistas
solenidades e festas
dos jornalistas

“O trabalho enobrece”
- a frase gravada na porteira
dos campos de concentração

Se Hitler estava certo
se o trabalho enriquece e engrandece
que aluno lembra o nome de um professor
Quem memoriza a face de um servidor
no birô de uma repartição

Quem realmente se preocupa
o velho termine nas filas dos bancos
para receber o mínimo salário mínimo
O velho arraste a aposentadoria
como uma humilhante penitência
O velho espere a morte
nas filas dos hospitais
quem realmente se preocupa

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).

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