quarta-feira, 18 de abril de 2012







Finíssimas

* Por Marleuza Machado


Nos dias 30 e 31 de março, aconteceu no galpão de uma confecção goianiense a liquidação de roupas femininas, aquelas denominadas para "troca de coleção". A marca possui lojas nos principais shoppings da cidade. É uma etiqueta que alcançou prestígio entre as consumidoras e, portanto, cobra caro de quem deseja ostentá-la.


Convidada por minha sobrinha, que é "antenada" nesse negócio de marca, aventurei-me na dita liquidação logo no primeiro dia. Como foi anunciado o abrir de portas às 9:00h, nos atrasamos um pouco na localização do galpão, lá chegando por volta das 9:30h. Situado na periferia da cidade, numa área onde existem alguns motéis, especificamente em frente a um deles, estranhei o estacionamento externo do motel e ruas adjacentes lotados naquele horário. Ingenuamente questionei minha sobrinha:
— Cruzes! Há tantos casais dispostos a frequentar um motel logo pela manhã, num dia útil?


Minha sobrinha retrucou, em tom jocoso:
— Tia, são as compradores que já chegaram!
Pelas marcas e estado de conservação dos veículos, percebia-se que a clientela pertencia às classes sociais que ficam numa parte privilegiada da pirâmide social. Gente fina!


Mas, exemplo de fineza tivemos ao entrar no galpão lotado, onde não existiam provadores. Mulheres seminuas havia por todos os cantos e lados. Sem nenhum pudor, despiam suas roupas e provavam tudo que conseguiam pegar nas prateleiras e araras espalhadas pelo local. Algumas usavam caixas plásticas, daquelas utilizadas nos atacadistas de hortifruti. Outras lamentavam não possuir braços extras. Eu e minha sobrinha, feito baratas tontas (estreávamos na modalidade "liquidação de marca"), nos limitávamos a trocar olhares de espanto e rir, constatando também que a malvada celulite instala-se, sem piedade, até nas mais jovens. Num calor que beirava uns 35º, avançávamos bravamente naquele território de guerra, com roupas espalhadas pelo chão, amontoadas pelos cantos, pisoteadas pelas ávidas compradoras. Um caos!


A certa altura, ouvi a reclamação de uma consumidora, vestida com duas peças da loja, que sua roupa havia desaparecido. Aquela, gostando ou não, obrigatoriamente teria que optar pela compra ou ir embora descomposta.


É bom esclarecer que o furor das consumidoras, de certa forma, justificava-se. Algumas peças custavam apenas 10% do valor praticado nas lojas dos shoppings. Minha sobrinha, sabendo o que procurava, em meio àquela desordem garimpou quatro peças e saiu contentíssima. Eu, como só acompanhava, adquiri apenas uma legging. Simplíssima.


Hoje, ao relatar o fato, por coincidência estou usando a peça adquirida com grande esforço. Só não tive ainda qualquer sensação diferente de quando visto uma similar. E etiqueta é tão pequena que passa despercebida! Por outro lado, sinto que meu ego possui sua marca pessoal e dispensa fatores externos que possam agregar importância a esta criatura. Porém não estou insensível a esses arroubos aos quais a classe feminina está sujeita: Agendei o mês da próxima liquidação de coleção! Vamos à luta companheiras!

• Poetisa e jornalista

Um comentário:

  1. Por coincidência pensamos de modo semelhante, Marleuza. Uso roupas de marca desconhecida e se me perguntam se é boa eu digo: sim, pois sou eu quem está usando. Sem nenhum convencimento, considero que eu acrescento valor ao que uso, e não o contrário.

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