domingo, 26 de fevereiro de 2012







Hipótese de conversa sobre o Amor


* Por Mariella Augusta


Se me visse na delicada e quase cruel situação, de definir o amor, para alguém que indubitavelmente estivesse à época da pergunta, sofrendo de uma espécie qualquer de sentimento que dói, fuxicaria dentro de seus olhos para saber do que precisaria, se da frieza do darwinismo ou se da poética dos românticos. Penso que precisaria de tudo – ciência, música, superstição. Mas, sobretudo, de amor. Então lhe estenderia minha velha mão e algumas palavras.

Pensaria em muitos amigos, com os quais eu passei parte de minha vida, a discutir essa questão.

Lembrar-me-ia de um sujeito singular que conheci em minha juventude...seguiu o caminho de Esculápio, era filho muito querido, nunca comeu carne e tinha certa genialidade. Tendo lhe dito, certa vez, que Schopenhauer tinha determinada visão do amor redargüiu-me “Se, tinha mais razão o filósofo, ou o homem que diz em certa canção popular: “o amor é um bichinho que rói, rói, rói”. Disse-lhe eu, que ambos a tinham.

Ainda nesta importância dada à dor, outra me disse que o amor tem um peso, e é este o quanto se pode suportar.

Prosseguiria com a explicação da imprescindibilidade do tema. Com a explicação do horror que a morte causa quando não há o amor. Pois qual é maior companheira da vida? E é este o único que pode tirar-nos de nós mesmos, tirar-nos do medo e do frio de estar só.

E que, Ele, um dia, despertaria-nos, distraídos, para um novo amanhã e um novo hoje. E se levantar nunca mais seria impensado. Todas as cores da tarde teriam um só propósito. E os nervos ficariam em desordem. Mas ainda assim seria belo. O amor tem muito da arte – o mérito, a revelação, o único, o segredo.

Logo me interromperiam e perguntariam-me, com olhos imaculados, sobre a inevitável questão das trocas do dar e do receber.

Então haveria esta única resposta: - O amor é sua própria gratificação. Aquele que procura o amor para os lucros nunca passará de um miserável. Não possui talento. É preciso saber transformar um dia triste de inverno , no melhor do dia, e no melhor do inverno. É preciso ouvir uma antiga canção e sentir o mais indizível dos sentimentos, qual seja, a saudade.

Esta é a paga e muito grande é a dívida. Pois quanto mais se dá, mais se é chamado a dar.

Mas e o vazio? E a fome? Para os aniquilar contamos com uma intuída certeza. Como a certeza de uma sinfonia – contundente demais, fatal demais. É que o amor não tem falhas. É coisa perfeita; é coisa de Deus.


O amor é uma conquista. E basta-nos a sua existência. Bem-aventurado aquele que conhece o amor pois ele conhece a Deus – nos diz João.

Muito útil porém é lembrarmo-nos de que amar é querer ser amado como nos diz Sartre. Isso poderia facilitar as coisas. As coisas do viver, mas as coisas do amar...não se facilitam.

* Bacharel em Direito, mestranda da FFLCH (USP), escritora, autora de “O Fio de Cloto”, livro de contos prefaciado por Bruno Fregni Basseto, grande filólogo e vencedor do Prêmio Jabuti. Publicou crônicas no “Jornal das Artes” e artigos em várias revistas acadêmicas.

Um comentário:

  1. O amor é apenas o amor, mas sempre me desperta paixão.
    Destaco: " O amor é sua própria gratificação".
    É um sentimento que se basta.

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