sábado, 18 de fevereiro de 2012



Excomunhão

* Por Flora Figueiredo

Quero tudo bem profano
por detrás da porta,
por baixo do pano.
Numa compostura torta
de coisa pregressa.
Quero ser feliz e tenho pressa;
quero a vida por um triz,
a alma por um fio;
quero o pavio queimando
e a vela derretendo;
quero a estrela se desvanecendo
em gozo
e o cio prazeroso da manhã.
Quero ver a febre
evaporar a coisa sã
e regurgitar na castidade;
quero dissolver a densidade,
absorver a abstração.
Quando a pétala desagregar,
desconcluir,
desconjugar,
quando a rocha fender
e o cristal se quebrar,
vai começar a verdadeira
floração.

• Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.

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