sábado, 21 de janeiro de 2012



Preferência nacional


* Por Clóvis Campêlo

Segundo Renato Boca-de-Caçapa, o filósofo do lumper-proletariado, se existem duas coisas que mexem com o imaginário do brasileiro são a bunda e o futebol.
Diferentemente dos americanos, que preferem um peito suculento e exagerado, a bunda é tão querida por nós que até o circunspecto poeta Carlos Drumond de Andrade dedicou-lhe um poema rotundo. Na Bahia, o filósofo e escritor Antônio Risério dedicou-lhe uma monografia repleta de citações científicas e levando em conta todas as regras da ABNT. Ou seja, coisa séria! E não poderia ser diferente, diante dessa magnífica região corpórea onde a nossa imaginação pagã vagueia sem lenço e sem documento. A bunda hiponotiza o brasileiro.
Quanto ao futebol, ele representou o início da nossa redenção, enquanto povo moreno e terceiromundista. Segundo o escritor Nélson Rodrigues, foi o futebol que, nos distantes anos 50 e 60 do século passado, nas conquistas do bicampeonato mundial, na Suécia e no Chile, nos livrou da pecha de vira-latas .
O futebol, também, em que pese toda a conotação de mercadoria valiosa por ele adquirida hoje em dia, devolve-nos o sentimento de coletividade que, de certo modo, perdemos diante do individualismo desenfreado da vida moderna. Coisa boa é irmos aos estádios e nos identificarmos com a torcida do nosso time querido, abraçar quem nunca vimos, gritarmos gritos de guerra e cantarmos em uníssono os nossos hinos. Para mim, o futebol é a demonstração viva de que o homem é um ser coletivo, de que a individualidade é uma coisa forjada em nós pelo sistema. Bom é estar ali, no meio do povo, a cantar, a dançar, a sorrir, a vibrar, independentemente de tudo. Bom, naquele momento, é sermos aquela família.
Mas, chega de pronomes demonstrativos e de digressões. É hora de cairmos na real e comentarmos sobre essa guerra de bichos em que se transformou o campeonato pernambucano. É jumento, calango, periquito, patativa, leão, timbu, gavião e cobra coral. Uma verdadeira arca de Noé. Em se tratando de mascotes diferentes, só temos a máquina de costura e o cangaceiro. E é justamente esse último que vem predominando e surpreendendo nessa duas rodadas iniciais do estadual. Com duas sonoras goledas, o time do Serra Talhada lidera o torneio e terá sua prova de fogo no próximo domingo, em casa, contra o Santa Cruz, que repetiu a mediocridade do primeiro jogo e levou uma porrada do Salgueiro. Segundo a crônica especializada, o placar de 2x0 foi até injusto para o time do sertão.
Penso que é hora do Santinha acordar, deixar de lado o discurso idiota de que o que nos interessa de fato é a ascensão à Série B do Campeonato Brasileiro e honrar o título de campeão pernambucano de futebol que hora defende.




• Poeta, jornalista e radialista

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