domingo, 25 de dezembro de 2011







Celebração da vida*

**Por Pedro J. Bondaczuk

O Natal, comemorado há mais de dois milênios por vasta parcela da humanidade, embora centralize-se na figura de Jesus de Nazaré – nascido de uma virgem, aproximadamente no ano 4 da era que leva o seu nome – é, acima de tudo, a celebração da vida. Trata-se da certeza do homem de que, a despeito de cataclismos cósmicos imprevisíveis e incontroláveis, da fúria da natureza da Terra e/ou dos letais engenhos bélicos criados por ele próprio, este dom precioso e, provavelmente raro, jamais haverá de se extinguir.
Neste aspecto, o Natal é uma festa que antecede ao nascimento físico de Cristo. Remonta às mais distantes eras, perdidas nas brumas dos séculos e dos milênios. Simboliza o preito de admiração e é, sobretudo, manifestação de confiança da criatura no Criador, qualquer que seja a sua forma ou natureza, ou o nome que se lhe dê: Deus, Jeová, Tupã, Alá, Brama etc.etc.etc.
A data de 25 de dezembro, consagrada pela Igreja Católica em 440 da nossa era para celebrar o nascimento de Jesus (a época efetiva dessa ocorrência jamais pôde ser determinada com exatidão histórica), desde tempos imemoriais, teve profundo significado para os mais variados povos. É nesse período do ano que ocorre o Solstício de Inverno, no Hemisfério Norte (onde surgiram todas as civilizações conhecidas), quando a luz solar começa a prevalecer, progressivamente, sobre as trevas, oportunidade em que o Planeta muda de posição em relação ao sol. Por conseqüência, os dias começam a ficar, paulatinamente, com maiores períodos de luz, até o mês de junho, culminância do processo, quando então atingem o auge de duração, no verão.
Há enorme simbologia nesse processo. Com o homem, ocorre algo semelhante, do ponto de vista simbólico. Ele nasce pequenino, mercê o mistério da fecundação, e se desenvolve, pouco a pouco, adquirindo força e consciência á medida em que o tempo passa. Isso, até alcançar o apogeu e passar, a partir de então, a declinar, rumo à indefectível noite da morte.
Mas antes de desaparecer e retornar “ao pó”, de onde seria proveniente, recomeça o processo de perpetuação da vida. Gera novo ser, com as mesmas características e as mesmas fases evolutivas pelas quais passou, que irá culminar, no final das contas, no mesmo fim. E este novo ser vivo e racional, por seu turno, reproduz todo o processo, dando continuidade a essa ininterrupta corrente vital.
Cristo, ao simbolizar a divindade que adquiriu formas e características humanas – para glorificar a principal criatura da criação –, representa, acima de tudo, o mistério, a transcendência e a grandeza da vida. Sua conduta é o modelo de fraternidade para o ser humano, para viver com harmonia e justiça com os semelhantes, calcada na premissa: “ame o próximo como a si mesmo”. Sua morte serve de alerta para a humanidade, dos riscos de não controlar sua natureza, sobretudo animal, e se deixar guiar apenas pelos instintos, em detrimento da razão.
Cristo mostrou, com sua conduta, que a animalidade do homem, no seu aspecto mais selvagem e perverso, pode ser neutralizada, mediante o expediente do amor. Sua ressurreição, por fim, seria a definitiva prova de que a vida é muito mais forte do que a morte. E que tende a sobrepujar a ausência, o vazio, a anulação e o nada, quaisquer que sejam os riscos e os obstáculos que esta criatura peculiar queira superar.
O nascimento de Jesus, portanto, consolidou, no homem, a certeza da sua imortalidade. Talvez não a individual, óbvio, mas como espécie. É, nesse sentido, portanto, a máxima certeza, dada pelo Criador, de apreço (e de perpetuidade) por sua obra maior: o homem.


• Extraído do meu livro (inédito) “Plenitude dos Tempos”.


** Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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