segunda-feira, 21 de novembro de 2011







Abandono

* Por Flora Figueiredo

A vida ficou de repente
apática e desinteressada,
Como se pretendesse descer
na próxima parada.
Abafou os sons que costumava ouvir,
com medo de sentir saudade.
Baixou os toldos sobre a claridade,
Para que o brilho do dia
não arranhasse a solidão.
Preferia permanecer quieta e sombria.
Guardar o açúcar como se quisesse
impedir o doce
de mesclar o fel que porventura houvesse.
Sensações e sentimentos
devidamente amordaçados,
rabiscou no papel seu breve recado:
"Saí para almoço.
Pretendo voltar.Não sei se posso.
Seja por favor,condescendente.
Quando o amor não está,
é costume da vida suspender o expediente"

• Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.

2 comentários:

  1. A gente quer se entregar ao abandono
    mas a vida...não deixa.
    Abraços

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  2. E que a vida volte a se interessar, abandone a apatia e não desça na próxima parada.Que maravilha de poema!

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