quinta-feira, 30 de junho de 2011







Fácil demais

* Por Fernando Yanmar Narciso

Você, que viveu nos anos 70, provavelmente era hippie e falava ou ouvia falar na tal Era de Aquário, no tal século XXI, onde tudo seria diferente, enfim todos os seres vivos encontrariam a paz interior e a harmonia, blablablablabla…
Lembram-se de quando vocês, ingênuos que eram, olhavam para as estrelas e imaginavam como seria nosso futuro? Assistiam aos Jetsons, criação mediana de Hanna/Barbera, com aqueles carros voadores, edifícios de apartamento orbitando sobre a Terra, casas onde ninguém precisava saber andar, pois eram todas movidas a botões e esteiras, robôs diaristas, computadores enormes, que eram literalmente cérebros eletrônicos e até davam palpite na vida de seus donos, ônibus espaciais que eram realmente ônibus espaciais, onde podíamos entrar e dar um rolé pelo sistema solar.
Bem, aqui estamos já na 2ª década do século XXI- NA 2ª!- e NADA DE CARROS VOADORES! Já repararam que quanto mais a tecnologia avança, menos conseguimos lidar com ela? Poucos como eu devem preferir a era analógica à digital. Quando chegou o primeiro videocassete da cidade- Por coincidência o nosso!- era uma invenção maravilhosa, pois não precisávamos mais estar em casa para não perder nossos programas favoritos, nem ir mais ao cinema com tanta freqüência. Bastava programar o aparelho e deixá-lo gravando a novela ou o noticiário e ir pro bar com os amigos. E todos os aparelhos vinham com a função gravar. Atualmente temos os aparelhos de DVD e Blu-Ray. É certo que a imagem e o som são incomparavelmente melhores, mas são poucos e muito mais caros os que possuem gravadores, e não é possível acelerar trailers e logomarcas como no VHS. Eu sei que fitas cassete eram muito maiores, mais incômodas, caras e perdiam a qualidade mais rápido que um CDzinho, mas em
compensação não arranhavam ou davam “créca” quando eram filmes piratas.
Videogames… Nunca tive problema nenhum com cartuchos, apesar de uma ou outra sopradinha dentro pra limpar a poeira e ocasionalmente estragar o chip. Para todos os antigos 8 e 16 Bits havia uma verdade absoluta: Coloque o cartucho,
aperte Start 4 vezes e você já estava dentro do jogo. Parei de acompanhar a evolução da indústria no Nintendo 64, depois nunca mais coloquei a mão num controle. Hoje todos os consoles usam DVD e as mesmas leis dos aparelhos de assistir filmes valem para os videogames modernos. Tudo neles é demorado, várias telas de carregamento e filminhos de abertura que não dá para pular apertando Start. It’s evolution, baby!
Em 1984 nascemos tanto eu como o primeiro Macintosh, considerado até hoje uma das maiores revoluções da história dos computadores. Recentemente vi um vídeo onde faziam uma disputa entre o velho computador da Apple e um desktop moderno
com o Windows XP para ver qual dos dois nos levava à área de trabalho mais depressa quando ligado. Enquanto o Mac ligou em aproximadamente 5 segundos, o XP, exibido que só ele, perdia quase um minuto carregando telas e mais telas até
dar o sinal. Sem falar no quesito confiabilidade. Em sua estréia, o Macintosh iniciou instantaneamente, exibindo um verdadeiro espetáculo de som e imagem jamais visto na história da informática. Em sua estréia, o Windows 98 nos brindou com a indefectível Tela Azul da Morte, diante de um exasperado Bill Gates e uma platéia imensa.
Praticamente todas as máquinas de hoje são exibidas, como diria minha mãezinha. Até TVs e fornos microondas modernos têm ringtone para ligar e desligar. No tempo da Telefunken de madeira com o botão seletor de canais que só ia do canal 2 ao 13 e
que mais parecia um móvel da casa que um eletrodoméstico, nenhum desses barulhinhos fazia falta. A televisão só fazia algum som se NÓS deixássemos.
Humanos são fascinados com qualquer coisa que funcione com botões. Não tão antigamente precisávamos fazer um esforço danado para abrir o portão da garagem, subir os vidros do carro, bater manteiga à mão, abrir latas, torneiras, apontar lápis… Vendo por esse ângulo, quase todo mundo fazia atividades físicas mesmo sendo um tremendo sedentário. Agora temos absolutamente tudo funcionando com o apertar de um botão, e nem desconfiamos do motivo de estarmos tão gordos…

• Designer e colunista do Literário, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

Um comentário:

  1. Pedro falando de pessoas e você, Fernando, falando do máquinas, acabaram simultaneamente falando da Era de Aquário. Mexa-se e não acumule gorduras.

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