quarta-feira, 22 de junho de 2011







Cavalgada

* Por Mara Narciso


Tenho feito coisas diferentes, encarado grupos diversos, enfrentado a minha dificuldade de chegar só em lugares desconhecidos. Maria Luísa convidou-me para ir com ela, Marlene e tia Celuta e Nair, em Glaucilândia para participar de uma cavalgada, ou melhor, ver a cavalgada passar. Fomos às sete e meia da manhã, pois começaria às 8 horas. Compramos o abadá verde bandeira, onde estava escrito “3ª cavalgada do batom de Glaucilândia”. Haveria um café na partida, outro pelo caminho, e um almoço na chegada. As mulheres teriam preferência, embora não houvesse concurso algum.
Junho é tempo frio e seco no norte de Minas. Chegamos cedo à fazenda do prefeito Marcelo Brant, onde tudo começaria. No pátio, cinco carros estavam estacionados sobre uma terra vermelha batida. Em torno, alguns eucaliptos. Ao fundo, uma imensa e antiga casa de fazenda, e ao lado um curral, onde dois homens tiravam leite. Depois de invadirmos a casa do prefeito para usarmos o banheiro (incrível hospitalidade, abrindo a intimidade do seu lar para desconhecidas - coisa do nosso torrão natal), fomos ver os bezerros. Estavam magros, mas ainda assim com saúde.
A festa seria demorada. As pessoas foram chegando devagar. Ficamos alternando entre o pátio e a entrada sob as árvores, enquanto foi servido um café com suco de caju, bolos (excelentes), e biscoitos. Bem depois, quando as pessoas já estavam fartas, o prefeito falou dos objetivos do evento, de confraternização e defesa do meio ambiente. Os participantes deram-se as mãos e rezaram para não ocorrer acidentes, montaram em seus cavalos e foram seguidos pelos carros num desfile pela cidade de Glaucilândia. Então, carros por um lado e cavaleiros por outro, para uma ida a barragem. Longa espera, e depois outra fazenda adiante, na qual dois grupos de cavaleiros se encontraram para um segundo café, à beira da estrada.
Curiosa maneira de entrosar. Não havia cerimônia alguma entre os presentes, com gente de camiseta ou sem camiseta sendo atendidos indiscriminadamente. Muita poeira, muitos cavalos, muita gente. Na localidade de Taquaral, fazenda onde acontecia o segundo encontro, uma senhora nos abriu a sua casa, ofereceu seu banheiro limpo e nos deu água, num gesto típico de quem recebe bem a todo mundo. Convidou as idosas, de 94 e 80 anos, para se sentarem, e ficou conversando conosco.
Já passava muito das 13 horas, e esta parte foi cansativa, pois os cavalos não paravam, nem motos, nem carros e o vento levantava mais poeira. O café foi igual ao anterior, sendo que muitos gostariam de comer algo salgado. Nos dois locais houve queima de fogos, e som com Paula Fernandes, absoluta. Também aconteceu a roda com pessoas de mãos dadas, falas e orações. Ficamos no carro, parte do tempo, devido ao cansaço, aguardando a saída da tropa, e cometemos um erro, que foi segui-la. Deveríamos ter passado à frente, pois ali, não havia a necessidade de desfilar. Pelo tropel dos cavalos de diversas raças, imagino um grupo que poderia ter trezentos cavaleiros.
Após uma jornada lenta, não muito longa, andando e parando, no meio de várias subidas dentro duma poeira vermelha que cobria tudo, vimos ao longe, no alto de um descampado, alguns carros estacionados, no local onde seria o almoço. Houve uma espécie de ritual, com os cavalos perfilados, em círculo, feito índios em filmes americanos, como se fizessem uma oferenda.
A chegada à fazenda destino foi tumultuada, pois estava cheia, com estacionamento lotado. Descemos e já nos esperava a fila do almoço. Estávamos com as senhoras idosas, mas pacientemente fomos esperar junto com elas. Havia escassez absoluta de cadeiras, e umas mil ou mais pessoas para comer. O almoço, com arroz branco, feijão tropeiro e carne cozida, estava sendo servido em prato de plástico com colher descartável. A distribuição de bebidas estava ligada a compra da camiseta, em parte patrocinada pela Prefeitura, em vista do baixo custo, e davam o direito a dois refrigerantes e uma cerveja.
A casa simples, com um avarandado, dava cobertura para poucas pessoas. Mas estavam ordeiras, calmas, sem nenhuma afobação. Sentamos uma das senhoras e então fomos convidadas a levá-las de lado, e com as crianças, fazer uma fila paralela. Eu, tímida, não fui. Então o prefeito apresentou-me à dona da casa. Esta, sorrindo sempre, me levou até a cozinha, e dando-me prato e talheres, mostrou as panelas sobre o fogão e pediu para que eu me servisse. Sentamos folgadas nos sofás da sala, e por quê? Na verdade, o prefeito Marcelo Brant e a sua esposa Denise Dias já me conheciam do consultório.
Lá fora, a festa rolava gostosa, sob um forró animado, com sorteio de brindes, e concurso de dança, em alusão ao Dia dos Namorados. Casais foram se formando, unindo pessoas da roça e da cidade, numa festa e tanto, com destaque para o entrosamento e hospitalidade dos envolvidos.

* Médica endocrinologista, jornalista profissional, acadêmica da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.

5 comentários:

  1. Mais uma vez, fui junto com você, Mara. E entrei de bicão na história, porque a cavalgada era do batom...
    O prefeito é parente do Fernando? Sendo mineiro, certamente é. Meu abraço e minha admiração.

    ResponderExcluir
  2. Realmente, vcs são muito hospitaleiros. Comprovei quando estive em Belo Horisonte (anos 80/90). É bom sair um pouco da telinha...
    Abração e um bom São João para todaos!

    ResponderExcluir
  3. São lindas manifestações populares.
    Vida longa para elas.
    Ótimo texto Mara.
    Abraços

    ResponderExcluir
  4. Grande viagem.Cavalguei no seu texto.
    Muito bom. Cenas de filme.

    Imagino que passou bons momentos.

    grande beijo

    ResponderExcluir
  5. Gente, farei como Hebe Camargo: você são umas gracinhas! O local da foto é Glaucilândia mesmo. Obrigada pelos comentários afáveis!

    ResponderExcluir