quarta-feira, 18 de maio de 2011







Olfato: o sentido da nostalgia

* Por Mara Narciso

Uma mulher passa deixando um rastro de perfume de boa qualidade. A quem ela pensa que engana? Alguém haverá de pensar que seu corpo exala naturalmente um odor floral? Há oito anos Odilza Vital, médica brasileira, lançou uma pílula de perfume nos Estados Unidos. Após metabolizar o produto, tomado três vezes ao dia, por uma semana, o corpo passa a emanar um cheiro de lavanda e outros compostos botânicos. Na ocasião, o FDA - Food and Drug Administration Americano aprovou a tal pílula que tinha como principal objetivo minimizar o mau cheiro da genitália feminina. Por se tratar de um insulto ao gênero, é bom deixar claro que os seres humanos exalam odores gerados pelos ferormônios, que estimulam a atração sexual no homem e na mulher. Banhos diários e bem tomados retiram qualquer odor corporal desagradável, não sendo necessários outros recursos. Mas a indústria cria necessidades de acordo com o produto que têm para vender, porém espero que as mulheres não estejam consumindo tais pílulas.
O olfato é um sentido primitivo, bem desenvolvido no homem, porém, bem menos que no cão, por exemplo. Está diretamente associado ao sabor, que depende do bom funcionamento do sentido olfativo para ser pleno. A soma de gustação e olfação dá a certeza de se estar comendo alimento seguro. É essencial à sobrevivência dos animais, assim, com poucos dias de vida, até o recém-nascido humano já reconhece o cheiro da sua mãe. Mulheres grávidas não têm olfato mais apurado do que as não grávidas, porém, devido à intolerância e nojo a diversos odores ficou a lenda.
O aroma é percebido a partir de emanações voláteis dos corpos, dos quais gases perfumados chegam aos órgãos olfativos, sem o objeto precisar ter contato direto com a mucosa nasal. As moléculas odoríferas de incensos e bálsamos, de tempos primordiais, já serviam de oferendas aos deuses. O ser humano é incapaz de sentir mais de uma fragrância de uma só vez, podendo haver uma mistura com preponderância de uma delas. Há quem conteste, mas existem aromas básicos, como por exemplo, frutal, floral, almiscarado, madeiroso e outros. Entre os florais destacam-se o perfume de rosas, lírios e flor de laranjeira. Em casa, há quem goste de tudo aromatizado, exalando olores em toda parte. As essências ambientes mais comuns são eucalipto, pinho, cítrico e lavanda.
Perfumes estão em terceiro lugar na preferência das mulheres em termos de presente mais desejado. Embora seja um produto de escolha muito pessoal, os clássicos de marca consagrada têm plena aceitação, mesmo quando quem presenteia mal conhece a presenteada. Falando de bons cheiros é inevitável entrar no lado oposto, o dos cheiros desagradáveis. Para a narina humana o cheiro de corpos em putrefação é o que traz mais asco e desconforto. Porém, em um minuto há uma espécie de anestesia causada pela exaustão dos neurotransmissores.
O cheiro de corpo é bom quando a pessoa cuida adequadamente da higiene corporal, especialmente quando haverá maior contato com o outro. Há quem não respeite o parceiro, médico, fisioterapeuta ou dentista e vai nesses encontros sem os devidos cuidados. Não é preciso ser inodoro e nem mesmo exalar odor de rosas, mas escovar os dentes após cada alimentação, e antes de um compromisso, e tomar banho todos os dias evitam constrangimentos.
Murici, uma fruta do cerrado, ou em Latim Byrsonima crassifólia, tem ácidos carboxílicos e monoterpenos que têm expressiva contribuição ao seu aroma. Não sei o que significam, mas o odor de murici pode me carregar para bem longe no tempo.
Mais do que a música, os cheiros levam pessoas ao passado, a um momento marcante do ontem. Por ser um sentido ancestral, os aromas transportam para fatos inesquecíveis, que voltam ao presente com grande nitidez, mesmo décadas depois. Não se esquece fácil do perfume de alguém querido ou de um alimento que fez história.
Homo sapiens são animais olfativos, seres nostálgicos que podem voltar às origens pelo cheiroso caminho dos odores.

* Médica, jornalista e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.

4 comentários:

  1. Legal conhecer um pouco mais sobre este nosso sentido, Mara. Valeu a aula, Doutora.

    ResponderExcluir
  2. Mara,
    verdade. Cheiros me lembram determinadas ocasiões. Muitas vezes, mais do que músicas. Tem um cheiro de um óleo que eu passava no corpo que lembro de um ex. Impressionante !Pode parecer engraçado, mas alguns perfumes também me lembram de determinados momentos da minha vida profissional.
    Adoro aromas. Perfumes. Gente cheirosa e perfumada !
    Atualmente uso Carolina Herrera 212. Mas vou trair " Carolina". Encantei-me com o cheiro de ange ou démon. Delicioso ! Afrodisíaco !
    Gostei muito da crônica.
    Rá !! Não fiz uso de pílulas. risos
    beijos

    ResponderExcluir
  3. Gosto do cheiro de mato, de ervas pois
    está ligado as saudades que sinto
    de pessoas que já foram.
    Texto elucidador.
    Abraços

    ResponderExcluir
  4. Marcelo, é bom quando conseguimos juntar revisão do tema com algumas sensações e lembranças.
    Celamar, sou alérgica a perfumes. Tenho asma. Os demais, procuro sentir com atenção. Não, eu não pensei que você tivesse usado a pílula de perfume...risos...
    Núbia, cada cheiro nos leva para um tempo e lugar, daí ser mais intenso do que sons, ou música, por exemplo. Há aromas bons e ruins que jamais esqueceremos.
    Apaixonei-me pelo amor dos orangotangos. E vocês?
    Obrigada gente, pelo carinho!

    ResponderExcluir