sexta-feira, 25 de março de 2011


Quem conta um conto,
aumenta um ponto


* Por Alexandre Lana Lins

Meus amigos, esta história que vou contar aconteceu lá pras bandas de Piranga... O homem que morreu, mas não morreu. Como assim? Vou-lhes contar... Eis que Munivaldo, homem rico da região e dono da única padaria da cidade, abria todo santo dia o seu estabelecimento e atendia a todos com muito gosto. Podia chover canivete que Munivaldo estava em sua padaria com os pães quentinhos. Só respeitava os dias santos, pois era muito religioso, e não abria a padaria.
Mas uma data apareceu em sua vida e Munivaldo teve que respeitar. A formatura do seu filhão no colegial. Foram mortos dois porcos e vinte galinhas, além de muito feijão tropeiro. Era festa para cidade toda! Mas antes, Munivaldo e sua família tinham que ir a cidade vizinha, onde seria a formatura do primogênito. Ele e sua esposa foram primeiro e deixou o outro filho fechar a padaria no início da tarde. O jovem fechou a porta e não colocou nenhum aviso... Eis, que isso deu pano para manga.
Munivaldo e sua esposa já estavam na outra cidade e seu filho, que fechara a padaria, saiu de casa para pegar o primeiro ônibus e ir ao encontro da família. Quando este assustou, um bêbado perguntou por que a padaria estava fechada. Aqui nunca acontecera antes. O jovem respondeu com pressa:
- O Pai ...
Eita, que o bêbado não esperou o menino terminar a frase e ficou doido! Cantou pra cidade toda que Munivaldo tinha morrido. O povo se juntou em frente à padaria em busca de alguma notícia. Logo o Munivaldo, homem bão, trabalhador, dono da única padaria, foi até vereador... Morreu de quê? Onde seria o enterro? E a família? O primo de Munivaldo ligava para o celular do morto e este não atendia. Liga para o celular dos filhos e não atendiam.
A notícia, a cada esquina, ganhava uma versão. Munivaldo morreu de emoção, pois o filho estava formando... Foi picado por uma cobra, enfartou quando viu todos os 200 pães da manhã queimados... Morreu dormindo, enquanto dava um cochilo depois do almoço.
Eita que o povo já rezava o terço em frente à padaria, enquanto esperavam notícia. Até que o primo do morto conseguiu falar com o filho mais novo que já estava na Igreja, na formatura do irmão.
- Como você está? – perguntou o primo.
- Tô bem... Estamos muito emocionados.
- Ficam calmos... Deus conforta.
- Como?
- E seu pai?
- Está aqui do meu lado...
- Entendo, mas é só o corpo. Ele está com Deus, na paz eterna...
- Como?
- E sua mãe?
- Muito emocionada...
- Pudera, viúva tão nova!
- Ô primo... Que conversa é essa? Quer falar com meu pai?
- Meu filho eu sou católico, não sou espírita...
O menino passou o telefone para Munivaldo.
- Ô primo! Você não vem?
- Não, tô muito novo... Munivaldo!
Quando Munivaldo explicou onde estava, o primo caiu na gargalhada. Quando Munivaldo soube a notícia que se alastrava em Piranga, ele caiu na gargalhada. Enquanto, a cerimônia não começava, Munivaldo enxugava as lágrimas de tanto gargalhar. O primo foi até a multidão, que estavam rezando em frente à padaria, gritou:
- Parem de rezar pro homem! Ele está mais vivo que nóis tudo aqui.
E explicou toda a história... Aliviados, todos voltaram para casa. E o bêbado gritava nos quatro cantos de Piranga: “Milagre, Munivaldo ressuscitou! Glória a Deus!”.

• Jornalista

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