sexta-feira, 21 de janeiro de 2011


Fazer rir e fazer chorar

O escritor tem o dom de mexer com as emoções, ou seja, de fazer as pessoas rirem e, com mais freqüência ainda, chorarem. E qual dessas duas vertentes literárias vocês acham que é mais complexa e exige maior talento, a comédia ou a tragédia? A resposta parece-me óbvia. Basta ver quantos livros há enfocando o lado trágico da vida – estimaria, na base do chute, em até 95% - e, em contrapartida, quantos se debruçam sobre a faceta caricata, ridícula e por isso risível da existência humana. Claro que fazer rir é muito mais complicado do que fazer chorar.
Vocês já tentaram escrever algum texto cômico, mas sem descambar para a apelação, para a escatologia barata, para o escracho de alguém, para a exploração dos defeitos físicos de quem foi punido pela natureza, que provocasse o riso (já nem digo gargalhada) até do sujeito mais sisudo e mal-humorado? Tentem para ver se é fácil. Vocês precisarão ter muito, mas muito mesmo talento e capacidade de comunicação, além de terem que seguir o beabá de qualquer texto literário, ou seja, escrever com absoluta correção semântica e gramatical.
Entre nossos escritores que tinham, ou que têm, talento para fazer os leitores rirem, destaco dois, um já falecido e outro, para nossa felicidade, ainda vivo, embora atravessando um período dramático em sua vida, internado que está há já bom tempo na UTI de um hospital. O primeiro é Sérgio Porto, mais conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, que completaria 88 anos de idade neste 11 de janeiro de 2011, mas que morreu há 43 anos, em 30 de setembro de 1968. O segundo é Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o queridíssimo Chico Anysio, do qual sou fã incondicional e por cuja recuperação estou torcendo, por entender que ele tem ainda muito a produzir para a nossa cultura e, sobretudo, para a atividade que é a minha paixão, a literatura.
Acho estranhíssimo que supostos intelectuais, do alto de sua arrogância, torçam o nariz para os livros desses dois escritores, como se eles fossem coisas de somenos. Tratam-nos como se fizessem “literatura menor”, o que um mínimo de conhecimento, de informação e de bom-senso revelaria que não fizeram e não fazem. Tanto o saudoso Lalau, quanto esse magnífico talento, que é o Chico Anysio, são escritores de primeiríssima linha. Os livros de ambos, deliciosos de serem lidos, ensejam-me muito mais reflexões, e por conseqüência, maior aprendizado sobre a vida, do que os dramalhões lacrimosos que lideram as tantas listas dos mais vendidos.
Não entendo a cabeça de quem prefere a tragédia à comédia. Considero tremendos masoquistas os que juntam aos seus sofrimentos reais, não importa o quão intensos sejam, aos fictícios, criados por mentes férteis e observadoras. Não me interpretem mal e não pensem que estou fazendo apologia da alienação. O que recomendo, isso sim, é o “tempero”, pois a vida é assim, “temperada”. Não tem, apenas, violência, ciúme, traições, mortes e dor. Se tivesse... estaríamos roubados!
Tirem um tempinho diário para rir do que é risível. O riso faz muito bem ao físico e ao espírito e, ademais, o homem é o único animal que ri. Daí este exercício saudável e prazeroso constituir-se numa espécie de distintivo humano, de característica exclusiva da espécie. Aprendam a valorizar os escritores que têm esse talento, que sabem criar situações que nos levem à gargalhada, sem debochar das fraquezas de ninguém e nem apelar para recursos escatológicos e primários.
Stanislaw Ponte Preta foi assim. O sujeito precisa ser muito mal-humorado, um verdadeiro pitt-bull, e burro como essa raça de cachorros para, em lendo as peripécias de Tia Zulmira, do primo Altamirando, de Bonifácio o Patriota e de outros de seus tantos personagens, não cair na gargalhada. E Chico Anysio é assim. Leiam os seus livros (já li 18 deles) e verão que não exagero. Escrevi a respeito desse escritor e quem leu a referida crônica sabe do meu apreço e admiração por ele.
Acredito que nosso cérebro seja um aparelho receptor e transmissor de ondas, não sei se de rádio ou se magnéticas e, se isso for mesmo possível, enviarei o máximo de emanações positivas, para que Chico se recupere da severa pneumonia que o mantém internado na UTI do hospital desde 2 de dezembro de 2010. Reitero, tenho certeza de que ele ainda tem muito, muitíssimo a oferecer aos seus admiradores, como me confesso ser. O mundo precisa de gente bem-humorada e que veja a vida sob o prisma do humor.
Quanto aos que pensam que literatura é apenas um desfile de violência, de paixões incontroláveis (e não raro inconfessáveis), de ciúmes, vinganças, patifarias, taras etc.etc.etc. e tudo o que há de ruim na natureza humana, aqui vai uma recomendação. Reciclem seus conceitos. Revejam seus valores. Avaliem a vida sob todos os seus aspectos, e não somente os negativos. Pensar negativo o tempo todo é estar entregue a uma forma doentia de alienação, e a mais perversa delas.
Aprenda a rir. Ria das situações engraçadas e até das trágicas. Certamente você já deve ter ouvido falar de tragicomédia. E, sobretudo, valorize os mestres do humor, como foi o saudoso Stanislaw Ponte Preta e como é – e espero que continue sendo ainda por muitos e muitos anos – este genial Chico Anysio.

Boa leitura.

O Editor.

Acompanhem o Editor pelo twitter: @bondaczuk

4 comentários:

  1. Vida longa para quem tem o dom
    de nos fazer sorrir.
    Abraços

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  2. Concordo com o que Pedro escreveu, já li livro do Chico, é de rir, mesmo!
    Peço licença para acrescentar: Nós temos escritores de grande porte, um deles é o Jô Soares (deveria pertencer à Academia Brasileira de Letras). Raramente assisto ao seu programa de TV. Mas, vamos para o lado intelectual do Gordo: ele escreveu o seu primeiro romance cômico-policial, O Xangô de Baker Street (best-seller). O autor trouxe personagens de ficção como o detetive Sherlock Holmes e doutor Watson, criação de Conan Dayle. Vamos rir com as situações engraçadas que inteligentemente o livro mostra que "os crimes não são tão elementares, meu caro..."
    Bom final de semana para todaos!

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  3. Li " O Batizado da Vaca, " Feijoada no Copa" e "Teje Preso". Não tinha capacidade para avaliar a sua literalidade, mas a história da vaca sempre me empolgou e muitas vezes a citei. Para mim foi inesquecível!

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  4. Adendo: aqui no Literário, Marcelo Sguassabia sempre me faz rir. E faço parte do seleto grupo dos trágicos e com pouco bom-humor.

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