quinta-feira, 23 de setembro de 2010




Poderes insuspeitos do placebo

* Por Marcelo Sguassábia



Ilustração: Marco Fraga

Síntese de algumas das curiosidades observadas no processo de pesquisa da eficácia e dos efeitos do medicamento Teaminadiaxilina Adulto.

Foram monitorados 3254 homens e mulheres, de 20 a 68 anos, divididos em dois grupos de controle. Durante o período da pesquisa, 1627 voluntários tomaram placebo. Os outros 1627 ingeriram placebo do placebo, ou seja, a substância ativa – Teaminadiaxilina Adulto, na dosagem de 250 mg, via oral ou diluída em picadinho de carne moída com pimentão, granola ou doce de jaca, conforme o gosto ou a dieta alimentar de cada voluntário.

Dos que ingeriram placebo, 665 cultivavam o hábito de comer filezinho acebolado no palito às quintas-feiras, ao passo que outros 311 faziam o mesmo às sextas, em horários aleatórios. Dentre os que o faziam às quintas, aproximadamente um terço se deslocava em seguida a lojas de materiais de construção para comprar pisos cerâmicos em ponta de estoque, enquanto os demais rumavam para o aconchego de seus lares, não raro com broas de milho debaixo do braço.

É importante ressaltar que 100% dos que voltavam para casa após o petisco bovino tinham, em alguma época de suas vidas, tomado contato direto com autoramas e/ou tabuleiros de acarajé sem alvará da vigilância sanitária. Desconhecemos, até o momento, a razão da discrepância entre os dois comportamentos observados (o retorno contumaz à rotina doméstica e a ida aos home centers). Já do grupo de adeptos do filezinho às sextas, contavam-se 54 maçônicos, 12 rosacruzes e 10 simpatizantes de rituais do santo daime, sendo que 8 indivíduos frequentavam religiosamente templos que preconizavam o ateísmo como crença. Dos 8 ateus analisados, três relataram a erupção de brotoejas por todo o corpo tão logo iniciada a administração do medicamento objeto da pesquisa, ou melhor, do placebo dele.

Considerando, entretanto, as atividades cotidianas dos três referidos voluntários, discriminadas hora a hora em planilha padrão, detectou-se que este reduzido universo acompanhava os sobrinhos-netos aos parques de diversões de suas cidades de origem ao menos 4 vezes por semana, inclusive na quaresma e nas épocas de estiagem, a despeito de possuírem todos unhas encravadas e taxa de ácido úrico apreciavelmente elevada para suas respectivas faixas etárias. Tais dados, curiosamente coincidentes e nunca antes constatados em publicações científicas de relevância e credibilidade, denotam claros indícios de que o placebo administrado como sendo Teaminadiaxilina pode provocar reações adversas que em nada guardam relação com aquelas elencadas nos 16 anos de pesquisas laboratoriais que antecederam o estudo ora em pauta.

Levando-se em conta os fatos acima dispostos, é forçoso admitir que as pílulas de farinha demonstraram cabalmente uma maior influência sobre o organismo do que o princípio ativo, o que leva a inferir que uma das duas conclusões a seguir enunciadas é verdadeira:



A) Teaminadiaxilina é inócua enquanto medicamento, na medida em que sua ingestão durante os testes em nada alterou a rotina comportamental ou fisiológica dos monitorados;
B) A farinha utilizada na confecção dos placebos apresenta propriedades terapêuticas até então desconhecidas.

* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”

2 comentários:

  1. Sabe do que me lembrei? Da minha mãe...quando sentíamos dor de cabeça ela nos dava uma balinha parecida com
    marzipan, depois de cinco minutos a dor passava.
    Eu acho que o meu "placebo" era ela...
    Abraços

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  2. Mistura de carimbó perfeitamente inviável, seja em receita, seja em cientificidade, mas como humor está de primeira.

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