sexta-feira, 21 de maio de 2010




Valor sentimental

* Por Rodrigo Ramazzini

Um homem e uma mulher se esbarram em uma rua da cidade.
- Ai! Ai!
- Desculpa, senhora! Se machucou?
- Não olha por anda, não?
- Calma! Foi sem querer... Toma a tua bolsa que caiu...
- Que calma, nada! Olha o que fizestes? Olha a sujeira que ficou a minha bolsa...
- Já disse, foi sem querer. Desculpa!
- Que desculpa! Que desculpa! Não presta atenção por andas, retardado? Agora vem pedir desculpa...
- Pô, calma aí! O esbarrão foi um acidente e a queda da bolsa uma conseqüência...
- Isso é uma explicação para justificar e atestar que tu és um boca-aberta, isso?
- Não precisa ofender. Já pedi desculpas...
- Mais é verdade... É boca-aberta, mesmo!
- Não quer aceitar, não aceita... Eu só quis ser educado... Aceita ou não o meu pedido de desculpas?
- Aí meu Deus!
- O que foi agora?
- Eu não acredito!
- O que foi?
- Eu não acredito que fez isso...
- Isso o quê?
- Quebrou, seu retardado!
- Quebrou o quê?
- E agora, meu Deus?
- Eu compro outro, sem problemas!
- Não tem como comprar. Tu não tens noção das coisas...
- Por que não?
- Era presente do meu namorado...
- Mais uma vez, desculpa! Puxa... Não era a intenção...
- Tu és um retardado mesmo!
- Pelo menos me diz o que quebrou dentro desta bolsa...
- Isso aqui... Ahn! Ahn! Olha...
- Calma! Não precisa chorar. O que é isso?
- O meu... Ungh! Buow!
- Não chora...
- Essa era a parte da cabeça dele...
- De uma elefantinho de porcelana que tem em qualquer loja, isso?
- Ahn! Ahn! Isso... Ele era muito importante para mim...
- Há! Há! Há! Essa cena toda foi por causa de um elefantinho de porcelana?
- Ahn! Ungh! Buow! Não ri...
- Mais é apenas um elefantinho...
- É que ele tinha um valor sentimental... Tu nunca vais entender!
- Sei...
- Homens: todos insensíveis mesmo?
- Eu, insensível?
- Claro! Não compreende a importância do meu elefantinho...
- E tu compreendeste as minhas desculpas? Sabe de uma coisa, tu és louca...

Então, o homem sai e deixa a mulher falando sozinha, que grita:
- Tudo bem! Eu te desculpo...

* Jornalista

3 comentários:

  1. Não...não era apenas um elefantinho. Tinha o seu valor.
    Minha irmã até hoje, sente falta de uma vaquinha
    de porcelana que tinha os olhos azuis.
    Tem coisas que vocês nunca vão entender...rs
    Abraços

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  2. Núbia,

    Essa reflexão sobre as "visões" de mundo que eu queria provocar e divertir.

    Obrigado pela leitura e comentário!

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  3. Sem estimular a violência, vendo-a com tanto mau-humor, acho que merecia ter o próprio pescoço destroncado. Não podenos entender o valor sentimental de objetos, mas achei a reação dela exagerada.

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