terça-feira, 25 de maio de 2010




Um olhar sobre a “Educação Sentimental”

* Por Evelyne Furtado

Longe de ousar um esboço de crítica literária essa abordagem é a de quem se encanta com a escrita cuidadosa, fluente e atraente de Flaubert. Em “A Educação Sentimental” Gustave Flaubert lança um olhar irônico, mas também afetuoso sobre sua vida amorosa na França de Luis Felipe.

O autor executou pesquisas exaustivas sobre o período historicamente turbulento no qual se desenvolve o romance. A segunda edição de “A Educação Sentimental” traz trechos de cartas de Flaubert à amiga George Sand e a outros amigos com vistas a tirar dúvidas sobre acontecimentos da época.

As barricadas, os rumores socialistas e as mudanças de poder formam o pano de fundo para o amor burguês de Frédérique Moreau por Madame Arnoux, mulher casada e dedicada à família. Há um certo cinismo (realismo?) no relato das atitudes ambíguas dos personagens, incluindo Frédérique, uma evocação do próprio autor quando jovem.

O autor ri de si mesmo ao relatar os tropeços de seu protagonista. O medo de concretizar o relacionamento o paralisa. Frédérique ama na impossibilidade. Entre Ruen e Paris, ele avança e recua, sob a regência, aparentemente sem intenção, da mulher amada. A um simples olhar, um gesto apenas, Moreau fantasia e os devaneios guiam seus passos.

Os pensamentos dos personagens são narrados com fluidez; um raciocínio sobrepõe-se a outro com rapidez. A paixão vencendo sempre a razão. Notável é a delicadeza com a qual o escritor descreve os encontros entre Frédérique e Madame Arnoux, desde o primeiro, no barco, até o último, muitos anos depois.

O romance, em sua segunda versão, é um clássico do realismo. É também o retrato que Flaubert, aos 56 anos, faz de sua juventude concluindo que,entre os sonhos e a realidade, sua escolha foi "o desprezo pelas tentações do mundo e o refúgio nas artes!"

* Poetisa e cronista de Natal/RN

4 comentários:

  1. Muito bom texto, Evelyne. Um painel rápido - porém revelador - deste clássico que ainda não li. Um beijo e parabéns!

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  2. Essa característica de temer sentir ou concretizar as coisas, paralisa muitas personagens por esses livros afora. E temos mais um aqui:
    "O medo de concretizar o relacionamento o paralisa."
    A sua vivência já a fazia muito sensível Evelyne, ainda mais agora.

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  3. Vale a pena ler, Marcelo!
    Verdade, Mara! Quero aprender mais sobre emoções.
    Obrigada, queridos!

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  4. Evelyne

    Não sei por que razão, o comentário que deixei ontem não apareceu aqui no Blog. Isso vem acontecendo. Algumas vezes escrevo, e meus comentários somem depois de algumas horas. Acho que é problema do meu provedor...
    Gostei muito do seu texto.Você escreveu de um jeito tão interessante que me deu vontade de ler o livro, pois ainda não o li. Estou relendo "Madame Bovary".

    Beijos

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