sexta-feira, 30 de abril de 2010




A professora

* Por Rodrigo Ramazzini

Na sala de casa.
- Pai!
- Ãhn?
- Paaaaaai!
- O que é?
- Tô falando contigu!
- Não está vendo que estou assistindo TV?
- É que eu precisu...
- Não dá para deixar terminar o telejornal?
- É urgenti.
- Fala então...
- É que eu...
- Fala de uma vez!
- É que eu tô apaixonado pela minha professora...
- Ah, só isso?
- Só isso, pai? Ela é o amor da minha vida e tu pergunta “só isso”?
- Quem na sua idade não se apaixonou pela professora, hein?
- Sei lá! Mas eu amu ela!
- Isso passa! Agora, não me enrola e pode voltando para o teu quarto fazer o dever de casa...
- Mas é que...
- Não quero ouvir reclamação!
- Mas pai!
- Agora!

Minutos depois, na cozinha.
- Amor! Escuta essa: o Gustavo acabou de me contar ali na sala que está apaixonado pela professora...
- Ah era isso? Escutei qualquer coisa daqui, mas não entendi a história...
- Diz que é o amor da vida dele! Coisa de guri... Eu era apaixonado pela minha professora também na idade dele...
- Ele não é o primeiro na escola que se apaixona por essa professora. Ela é nova por lá. Chegou essa semana. Mas eu fui largar ele ontem e ouvi outras mães falando a mesma coisa sobre a paixão dos filhos...
- Coisa de guri! Passa. Será que a conheço?
- Não sei! Agora pára de mexer nas panelas e volta para a sala...
- Que horas fica pronta a janta?
- Daqui a pouco... Está me atrapalhando! Vai Paulo... Vai...

No outro dia pela manhã. Era dia de Paulo levar Gustavo de carro a escola. Ao chegarem em frente ao prédio...
- Paaiiii! Paaiiii! É ela... Olha ali...
- Ela quem?
- A professora! Minha namurada...

Paulo aprecia por alguns segundos o remexer dos quadris da professora ao caminhar e pensa: “É gostosa a professorinha mesmo... O guri tem bom gosto... Esse é o meu garoto!”.
- Ela é linda, né pai?
- Muito bonita! Agora desce! O pai já está atrasado para o trabalho...
- Tchau, pai!
- Tchau!

Paulo despede-se do filho com um beijo e olha novamente para a professora. Então, se dá conta que aquele par de nádegas lhe era familiar. Arrepiou-se. Proferiu um palavrão, e, depois de ouvir a buzina insistente do carro que estava parado atrás, rumou para o escritório. Ao chegar ao trabalho, foi direto ao telefone.
- Alô, Rachel?
- Já sei! Já sei, Paulo! O que está usando um abrigo esportivo roxo é seu filho... Já descobri! Sou professora dele...
- Qualquer gracinha com ele...
- É só andares na linha que eu não conto que ele tem um irmãozinho do paizinho dele fora do casamento...
- Estou te avisando: qualquer gracinha com ele... Eu te mato!
- Vê se te enxerga, Paulo!
- Estou avisando!
- Ah! Foi bom ligar. Quero o dinheiro na minha conta até amanhã, viu?
- Sua...
- Olha o que vai dizer...

À noite, já em casa, Paulo comenta com a esposa.
- Sabe amor! Estou preocupado com o Gustavo. Só fala da tal professora. Falou o caminho todo hoje. Isso está passando dos limites. Será que não era de trocá-lo de escola, hein? O que achas?

* Jornalista

3 comentários:

  1. Depois querem que a gente tenha complacência
    com esses inocentes seres...
    Capazzzzzzzzzzz!
    Texto divertido e leve!
    Parabéns Rodrigo!
    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Tenho tentado fazer esses "recortes do cotidiano" de forma leve e divertida mesmo! Acho que consegui!

    Muito obrigado pelo carinho!

    Tenha um ótimo final de semana!

    Aquele abraço!

    ResponderExcluir
  3. O menino herdou do pai o gen e o gosto por mulheres chantagistas. Pobres homens! História interessante, Rodrigo. Fez uma boa narrativa. Os diálogos ficaram leves, reais e convincentes.

    ResponderExcluir