sábado, 17 de abril de 2010


Poeta prolífico e preciso

Prezados leitores, boa tarde.
Anderson Braga Horta, um dos quatro citados por J. R. de Almeida Pinto, em seu livro “Poesia de Brasília – duas tendências”, como protótipo de poeta “culto” (no sentido lato do termo), como a maioria dos escritores do Distrito Federal, também não é brasiliense de nascimento.
Todavia, reside na cidade desde 1960, ou seja, desde a sua inauguração. Ali, agora aos 75 anos de idade, sempre se mostrou atuante, produtivo, incansável e, diria, genial. É natural de Carangola, Minas Gerais, onde nasceu em 17 de novembro de 1934. É formado em Direito pela Universidade do Brasil, do Rio de Janeiro.
Anderson Braga tem currículo invejável, não somente como escritor (sobretudo como refinadíssimo poeta), mas, também, profissional. Cursou Letras Brasileiras na Universidade de Brasília. Foi diretor Legislativo da Câmara dos Deputados, função em que se aposentou. É professor de Português, portanto cultor e guardião do idioma, e co-fundador da Associação Nacional dos Escritores, da qual foi secretário-geral. É acadêmico, dos mais ativos, da Academia Brasiliense de Letras e da Academia de Letras do Brasil.
Ganhou praticamente todos os prêmios literários nacionais que o leitor possa imaginar. Sua obra publicada é imensa, chegando a quase uma centena de livros. Posso citar, meio que de passagem, apenas a título de exemplo, “A aventura espiritual de Álvares de Azevedo”, “Antologia Pessoal Anderson Braga Horta”, “Cadernos de Literatura – Erotismo e poesia”, “Pulso instantâneo”, “Sob o signo da poesia”, “Soneto antigo” e vai por aí afora.
Seu nome é de citação obrigatória em todas as histórias sobre literatura em Brasília, da qual foi um dos principais precursores. Esta minha série de textos para homenagear os cinqüenta anos de inauguração da nossa futurística capital, portanto, ficaria incompleta e capenga se nem ao menos fizesse menção a Anderson Braga Horta. Certamente, nem por distração, eu cometeria esse pecado (mortal).
Mas esse notável escritor teve a quem puxar. Afinal é filho do casal de poetas Anderson de Araújo Horta e Maria Braga Horta. Embora conhecendo pouco da obra de seus pais, ouso afirmar que os superou, em quantidade e em qualidade de produção. Ele confessa, a propósito da sua principal influência: “Criado num ambiente de respeito à cultura e amor aos livros, posso dizer que recebi em casa mesmo os primeiros estímulos literários”.
Sobre a sua arte, escreveu, em maio de 1999: “Penso que o poeta não pode deixar de se assenhorear das técnicas do verso, embora técnica, obviamente, não seja tudo. Que ao escritor compete extrair do potencial de sua língua toda a cintilação que possa, dignificando-a sempre. Que escrever é atividade intelectual, sim, mas não se esgota no âmbito do intelecto; que o poeta há de comover-se e comover, sim, mas não se há de entregar, ingenuamente, à emoção desassistida da inteligência, porque a emoção, por si só, não é ainda arte, não é ainda poesia. Que a esse amálgama de pensamento, emoção, sentimento que é o poema não se deve tolher o voltar-se para a sorte do homem no espaço e no tempo, seja do ponto de vista filosófico, seja do social, pois à poesia, arte da palavra, interessa, necessariamente, tudo o que de humano se possa representar nela. E que portanto, a arte do poeta há de ser mais complexa, mais completa, mais abraqngente e mais profunda do que tendem a fazê-la os jogos – algumas vezes brilhantes – a que pretendem reduzi-la correntes revolucionárias”.
E vejam como Anderson Braga Horta é coerente. Coloca em sua poesia tudo o que defende com tanto brilho e paixão. Exemplo? Este poema “Oração”: “A Casa de meu Pai tem muitas moradas./O universo é meu lar./Não conheço fronteiras.//Pequeno verme num pomar de estrelas,/deu-me o pai infinitas vidas/para em todas ardê-las.//No seio do meu Pai estou, mesmo na queda./Sem desespero encaro/minha pobre verdade.//E sei, por este mesmo anseio do alto,/que – além da eternidade – me espera a eternidade”.
Lindo poema! É um banquete de bom-gosto à inteligência e à sensibilidade. Como também o é este “Música”: “Sombra de Deus, modulações do Nada,/que os anjos colhem do chão, com reverência./O pó que fecundaste infiltra-se nas fendas/do Cosmo, pólen de ouro/em asas de invisíveis borboletas.//Louvamos-te, Senhor; o rastro de tua sombra/desce e ilumina as nossas trevas”.
Lendo os poemas de Anderson Braga Horta, prolífico e preciso poeta, com precisão cirúrgica na construção de metáforas e no emprego das palavras, entende-se porque é tido e havido como um dos precursores (se não o principal) da poesia em Brasília. Oportunamente, escreverei mais a seu respeito.

Boa leitura.

O Editor.

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