sexta-feira, 16 de abril de 2010




O velório

* Por Rodrigo Ramazzini

Em um velório.
- Opa!
- Opa!
- Recém chegou o corpo?
- Não! Foi pela manhã...
- Assim que fiquei sabendo vim para cá.
- Ah sim...
- Morte triste, né?
- Pois é...
- Não que exista morte alegre, mas neste caso...
- É... É a vida, meu senhor!
- A vida não é justa mesmo! Uma pessoa tão boa...
- É verdade!
- Eu não entendo porque isso acontece...
- Acho que ninguém, meu senhor!
- As pessoas boas geralmente têm uma morte triste. Já notaste isso?
- É, meu senhor!
- Enquanto muitos marginais que andam por aí morrem de velhos...
- Pois é...
- Mas o importante é que viveu uma vida feliz, não achas?
- É, meu senhor!
- Foi uma pessoa boa em vida...
- Isso foi...
- Deixou nos amigos e familiares só boas lembranças...
- Deixou, meu senhor!
- Por isso deve estar ao lado do velho lá em cima agora...
- Com certeza, meu senhor!
- Amém!
- Amém!
- O que eu não entendo é porque Deus dá uma vida tão curta para as pessoas boas...
- Pois é...
- Essa mesmo... Conheço desde criança... Praticamente vi nascer... Agora está aí, tão nova, em um caixão... Difícil de acreditar!
- É verdade, meu senhor!
- Vou ali rezar perto do corpo, meu filho! Daqui uns dias sou eu e espero que façam isso por mim...
- Vá lá, meu senhor!

Álvaro que conversara com o senhor, deixa-o se afastar e, então, chama o primo Wagner e cochicha:
- Quantos anos tu achas que aquele velho ali tem?
- Não sei! Uns setenta. Por quê?
- Ele disse que conhece a vovó desde criança...
- Há! Há! Há!
- Pára de rir! O pessoal está olhando...
- O velho está no velório errado ou é louco...
- Uma das duas...
- Quantos anos a vovó iria fazer mesmo?
- Cento e quatro, em setembro...

* Jornalista

4 comentários:

  1. Rodrigo!!!!!!!!!!
    Perdi sua entrevista amigo, estava sem net.
    Que pena.
    Olha, ir para enterros com minhas tias é divertimento garantido, elas são doidas por uma gelada e quando o bico seca pode ter certeza que
    elas vão dar umas boas lapadas e depois voltam rindo e contando piadas, não tem como não rir.
    São doidinhas, mas divertidíssimas!
    Adorei o texto!
    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Núbia,

    Como você perde a entrevista mais sensacional que eu já concedi ao literário? Não tem desculpa isso! Hehehhehe...

    Muito obrigado pelo carinho de sempre!

    Ótimo final de semana!

    Aquele abraço – Rodrigo Ramazzini

    ResponderExcluir
  3. Adorei seu texto, Rodrigo. Velório é sempre uma ocasião para ir e pra chorar. Parabéns!

    ResponderExcluir
  4. Lembrei-me de um outro velório similar, em que a mãe de um político importante faleceu, já velhinha, não menos de 90 anos. Um puxa-saco chegou, e na cabeceirta da morta, não conseguindo falar coisa melhor, sapecou um: coitada! Tão nova!

    ResponderExcluir