terça-feira, 27 de abril de 2010




Gil, depois do Domingo

* Por Laís de Castro

Depois de “Domingo no Parque”, segunda colocada no Festival da Record (1967), Gilberto Gil já compôs várias músicas e está preparando um novo LP. InTerValo antecipa para seus leitores algumas dessas músicas, com interpretação do autor.

“A primeira que fiz”, conta Gil, “com letra de Torquato Neto, chama-se ‘Domingou’ (uma corruptela do verbo domingar, seria). Trata-se de um domingo no Rio, mas não tem nada a ver com ‘Domingo no Parque’.

Fiz uma segunda, com letra de Capinam, bilíngüe”. Chama-se ‘Soy loco por ti América’ e tem uma estrutura musical toda latino-americana. É uma canção em português e castelhano, de todas as Américas. Ela vai ser gravada por Caetano Veloso em seu LP”.

Da terceira música, Gil fala com um carinho todo especial: “Ainda não tem nome, é uma música existencialista, feita sobre uma canção surrealista do Recife. Não se preocupe, quando sair ela será logo identificada”.

Uma outra mais, vamos ver: “chamada ‘Bem-vindo’, que fiz com Capinam e Torquato, um baião que traz uma característica de monotonia porque se repete muito”.

Gil pára um pouco para pensar e volta ao assunto falando de letras. Ele explica, então, por que tem feito músicas com letras compridas: “As coisas que têm que ser ditas, têm que ser ditas. Em uma ou dez palavras. A gente abre mão da letra curta, às vezes, para dizer o que quer”.

Gilberto deixa para o fim a música “Panis et Circenses” (pão e circo, em latim), que também irá para o próximo disco. Sua letra, entre outras coisas, diz: “eu quis cantar/ minha canção iluminada de sol/ ergui os panos sobre os mastros no ar/ soltei os tigres e os leões nos quintais/ mas as pessoas da sala de jantar/ estão ocupadas em nascer e morrer…”

A historinha por trás do texto

Em 1968, Gilberto Gil era gordinho e usava um chapéu de couro que parecia pequeno para o seu grande coco. Uma cabeça grande, bela, por dentro e por fora, fazendo maravilhas como “Soy loco por ti América” e outras. Apenas alguns anos depois ele iria aderir à comida macrobiótica que o tornou magro e, até hoje, saudável. Abriu mão de todas as gorduras…

Ele andava sempre pelos lados da TV Record. A partir de “Domingo no Parque” (segunda colocada no Festival da Record de 1967), revolucionou a MPB com a tropicália.

As revistas de TV, como a InTerValo, passaram a se interessar por ele e a publicar seu trabalho. Eu tive a alegria de sair para uma sessão de fotos com Gilberto Gil pelo centro de São Paulo e de fazer essa entrevista, pequenina (a revista era pequenina), mas que traz muitas informações nas entrelinhas…

A canção “existencialista”, identifico hoje, em 2010 é a seguinte:

BATMAKUMBA
Gilberto Gil & Caetano Veloso
1968

Batmakumbayêyê batmakumbaoba
Batmakumbayêyê batmakumbao
Batmakumbayêyê batmakumba
Batmakumbayêyê batmakum
Batmakumbayêyê batman
Batmakumbayêyê bat
Batmakumbayêyê ba
Batmakumbayêyê
Batmakumbayê
Batmakumba
Batmakum
Batman
Bat
Ba
Bat
Batman
Batmakum
Batmakumba
Batmakumbayê
Batmakumbayêyê
Batmakumbayêyê ba
Batmakumbayêyê bat
Batmakumbayêyê batman
Batmakumbayêyê batmakum
Batmakumbayêyê batmakumbao
Batmakumbayêyê batmakumbaoba

Obs: Publicada na revista InTerValo de 14 de janeiro de 1968.

* Jornalista desde os 21 anos, quando estreou na tradicional revista Realidade, trabalhou 18 anos na Editora Abril, vários anos na Carta Editorial e outros mais na Azul. Ganhou 3 prêmios Abril, um concurso de contos infantis no Estado do Paraná e é autora do livro de histórias para adultos: “Um Velho Almirante e outros contos”, publicado pelo selo ARX (Siciliano). Atualmente dedica-se apenas à Literatura

2 comentários:

  1. Laís, essas suas passagens me fazem
    viajar. Tem mais?
    Vou ficar esperando.
    Parabéns.
    beijos

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  2. Adoro essas histórias dos festivais, Laís. Por favor, continue nos contando...
    Beijos

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