quinta-feira, 18 de março de 2010







A gente vai lá e EXPLODE TUDO!

* Por Fernando Yanmar Narciso

Não houve época mais divertida e promissora para a indústria do cinema de ação que os longínquos anos compreendidos entre 1980 e 1992. Quando todos já tinham enjoado de cavalheiros de 50 anos usando chapéu e matando índios sobre um corcel branco, Hollywood precisou criar um novo tipo de cowboy e um novo tipo de estereótipo racial para brincar de tiro-ao-alvo.

Voltemos um pouquinho no tempo. Nos anos 50, o herói típico de filme de ação era o cowboy. John Wayne, apesar de ser meio balofo, usar sempre o mesmo chapéu e não ser muito chegado em retórica, despachava índios e bandidos – pra ele era tudo a mesma coisa – enquanto segurava as rédeas do cavalo com os dentes e carregava mocinhas em perigo nos ombros, já beirando seus 60 anos. Exemplo de macho-alfa que atravessou gerações.

Já nos anos 60 e 70 apareceram os heróis jovens com aparência ligeiramente feminina que faziam as mulheres suspirarem e os homens urrarem como vikings nas telas de cinema, personificados pelo Dirty Harry de Clint Eastwood, 007 de Sean Connery e Frank Bullitt de Steve McQueen. A exemplo dos filmes pornôs da época, os caras davam conta de qualquer recado, mas ainda pareciam caras normais, que poderiam ser encontrados ao seu lado, vendo um jogo de bocha. Então, tudo isso mudou na década seguinte, quando o fogo da Guerra Fria já chegava a suas últimas brasas e o povo ansiava por figuras “heróicas” e filmes violentos como válvula de escape da “década perdida”.

Influenciados primariamente pela era Ronald Reagan, um presidente que sabia meter medo em seu povo e no mundo como poucos até hoje, esses filmes em geral eram protagonizados por um brucutu cheio de músculos que não tem o dom das palavras e detesta jogar pelo livro de regras básicas de conduta policial/militar, liderando um grupo de policiais/soldados renegados em missões dentro e fora do país, mas que preferem mesmo é trabalhar sozinhos, sempre passando uma única mensagem ao mundo: NUNCA F... COM A AMÉRICA! Stallone, Schwarzenegger e Chuck Norris reinaram absolutos naquela década!

E tome tiro pra tudo que é lado, armas do tamanho de tratores, explosões de gasolina pra dizer que eram bombas, litros de sangue falso, perseguições desenfreadas em ruas e selvas, vilões unidimensionais e caricatos, torturas que fariam até um desdentado e sem língua falar, oficiais traindo seus subordinados e tudo o mais de ruim que poderia cair no colo de um só país, tudo isso unido por uma pelezinha de nada de roteiro.

Esses caras fortões e “heróicos” não seriam ninguém se não fosse por uma empresa: Cannon Films. Se você tinha o costume de emendar Os Gols do Fantástico com o Domingo Maior, ou então o Show de Calouros com a Sessão das Dez no fim dos anos 80/ começo dos 90, já viu muito essa logomarca. Essa produtora foi fundada em 1967 pelos primos israelitas Menahen Golan e Yoram Globus, e se especializou em filmes carregados de testosterona, explosões e balas feitos “a toque de caixa” no “boom” do gênero.

Essa empresa salvou a carreira de Charles Bronson nos anos 80 com alguns filmes bem fraquinhos e as continuações tenebrosas de Desejo de Matar – sendo a parte 3 a única tolerável e favorita dos fãs – e criou a carreira de Chuck Norris com seus filmes baratinhos, aparecendo ora como um comandante perdido no Vietnã que matava mais que o Rambo, ora como agente antiterroristas que detonava mais de 500 russos em sua moto com lança- mísseis, sem mudar a cara de pedra, nem amarfanhar seus preciosos mullets, ora como Chuck Norris mesmo, dando porrada a torto e a direito. Se hoje em dia tais filmes são considerados toscos, motivos de piada e até mesmo fascistas pelos defensores do “politicamente correto”, eram garantia de retorno financeiro 10 vezes superior aos seus orçamentos nas matinês.

Por aqui, a maioria desses filmes foi distribuída pela saudosa América Vídeo Filmes, das capas com as bordas azuis estreladas e com uma vinheta eletrizante, que deixava qualquer um colado na poltrona. Eles conseguiam fazer até esses filmecos baratos da Cannon parecerem coisa de George Lucas.

Rambo e Braddock sugeriam ser divertido fuzilar todos aqueles figurantes. Quando você consegue atirar com uma M16 – arma para helicóptero, com um coice colossal – usando só um braço, e estourar os miolos de 40 vietcongs em câmera lenta sem sofrer um arranhão, pra quê se preocupar com a correção política e a verossimilhança? Como eu sempre digo, mortes no mundo real são tragédias, mas em celulóide todo mundo vibra. KABOOM!

* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

2 comentários:

  1. Rambo com a sua cara torta, parece
    que mastiga alho.
    Braddock, um anão que pensa que é gente.
    E como matam em nome da paz...misericórdia.
    Sou mais o bom e velho John Wayne com
    barriga e tudo!
    Adorei Fernando!
    beijos

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  2. Diferente visão de um jovem analisando coisas de décadas antes de nascer. Achei algumas passagens bem engraçadas.

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