domingo, 28 de março de 2010


Fascínio por vampiros

Caros leitores, boa tarde.
O tema que lhes trago à baila hoje pode não ter qualquer relevância (e não tem), pode nem ser de bom-gosto (e não é), mas está, mais do que nunca, na moda, sobretudo no Ocidente. Vivo a indagar, volta e meia, aos meus botões: “Por que as pessoas (temo que a maioria) são tão fascinadas por histórias de terror? Por que, por exemplo, ocorre esta atual ‘febre’ por vampiros, se eles são meros frutos da imaginação de alguém?” Refiro-me, aqui, a pessoas que se alimentariam de sangue humano, não a morcegos, evidentemente.
Da minha parte, não tenho explicação racional e lógica para isso. Contudo, somos tão ilógicos e irracionais, sob este disfarce de lógica e racionalidade que costumamos ostentar, para “consumo público”!!! E você, leitor, saberia explicar a razão desse fascínio, no mínimo de péssimo gosto?
A escritora norte-americana Charlaine Harris sabe (ou acha e diz que sabe). Entende que “os vampiros estão na moda no Ocidente porque há uma obsessão pela juventude e beleza eternas. E porque a fantasia triunfa em tempos de crise”. Bem, crise é o que não nos falta. Aliás, abunda. É crise de todo o tipo e intensidade: social, econômica, de valores, de objetivos e vai por aí afora.
Se tem quem não conte com motivos para reclamar de mais esse modismo (que volta e meia, desaparece, mas retorna, na geração seguinte, com mais força e vigor), é Charlaine Harris. Por que? Porque vem ganhando rios de dinheiro às custas desses seres imaginários (e do seu talento em criar histórias, tendo-os por personagens, claro). Afinal, já escreveu toda uma série a respeito, intitulada “True Blood” – e promete continuar nessa linha – composta pelo romance “Morto até o anoitecer” e suas nove seqüências.
Vejam vocês como as aparências enganam. Quem vê uma pessoa no dia a dia, ou mesmo conviva com ela, em relações sociais, profissionais ou até afetivas, nem desconfia a quantas podem andar suas fantasias e sua imaginação. É o caso específico de Charlaine Harris, afável, risonha e bem-educada senhora de meia-idade, perto de completar 60 anos, um encanto de mulher.
Seus livros, todavia, têm infinidade de vampiros, lobisomens e fadas e são carregados de suspense, ação, sangue e muito, mas muito mesmo conteúdo erótico. A escritora, a julgar por seus textos, é um vulcão de paixões e de imaginação.
Pelo visto, ela descobriu a fórmula mágica para encantar leitores e induzi-los a comprar o que escreve, pois suas obras já foram publicadas em vinte países (inclusive no Brasil, claro), traduzidas para várias línguas e seguem vendendo milhões e milhões de exemplares. Ela transformou-se numa espécie de “Midas de saia”: tudo o que toca se transforma em ouro.
Será que Freud teria explicação mais plausível para essa obsessão pelo fantástico, sobretudo pelo horrendo? Creio que boa parte desse fenômeno seja fruto de repressão sexual de milhões e milhões de pessoas mundo afora, apesar de uma suposta liberação (ou até libertinagem, em alguns casos) do sexo. Afinal, qual seria explicação melhor e mais verossímil do que esta?
Destaque-se que o perfil dos leitores de Harris, surpreendentemente, não é o de jovens e muito menos de adolescentes, como seria de se esperar. A escritora afirmou, em entrevista à agência de notícias EFE, durante sua primeira visita a Portugal (e certamente deve ter em mãos pesquisas a respeito): “Meu público é adulto. Decidi que seria divertido que os romances tivessem alto conteúdo sexual. Quando comecei a escrevê-los, já tinha certa idade e nunca tinha escrito uma cena de sexo explícito em um livro antes. Pensei que se queria fazê-lo, tinha chegado o momento”.
Não é apenas Charlaine Harris, todavia, que fatura alto com o fascínio do público por vampiros e quetais. Os livros de Stephenie Meyer, “Amanhecer”, “Eclipse”, “Crepúsculo” e “Lua Nova” estão há mais de um ano no topo da lista dos mais vendidos, pelo menos no Brasil. Os filmes baseados nesses romances batem sucessivos recordes de bilheteria.
L. J. Smith é outro que faz a alegria (e a fortuna, claro) de seus editores, com a série “Diários do vampiro”, notadamente com os volumes “O despertar” e “O confronto”. Coincidências? Os psiquiatras garantem que o medo, desde que não descambe para o extremo, para o pavor, é um baita estimulante sexual. Dizem que é um insuperável afrodisíaco. Deve ser mesmo (não posso garantir, já que não sou especialista na matéria).
Aliás, o medo é, ao lado do sexo, um dos principais componentes do instinto mais básico com que contamos: o de preservação da espécie. Deve ser, portanto, estimulante mesmo para relações sexuais. Ademais, os vampiros são símbolos de eternidade, pois só podem ser mortos se lhes forem fincadas estacas no coração. Para manterem-se “vivos”, se alimentam do quê? Exatamente da substância que simboliza, por excelência, a vida: o sangue.
O engraçado é que ninguém fantasia com os hematófagos, cujo alimento é o mesmíssimo dos vampiros. Não conheço, por exemplo, nenhuma história envolvendo pernilongos que se transformem em gente quando quiserem e nem de nenhuma mocinha, cheia de tesão, apaixonando-se por mosquitos, pulgas, carrapatos e percevejos. Credo, que gente de mau-gosto!

Boa leitura.

O Editor.

2 comentários:

  1. Não saberia te explicar esse fascínio
    pelo terror mas, devo lhe confessar que
    é o meu ponto fraco, adoro histórias
    arrepiantes que te deixam com medo até da
    própria sombra.
    Beijos

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  2. Não é para ser diferente, mas sou diferente. Não leio esse tema, mas leio sobre esse tema. E gostei da análise. A minha falta de leitura é irrelevante para essa brilhante autora Charlaine Harris. Admirável!

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