quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010




Minha segunda casa não é mais aquela

* Por Fernando Yanmar Narciso

Todo mundo tem aquele cantinho especial, um lugar com valor sentimental para onde se pode fugir e abrir mão de todas as agruras do dia-a-dia. Meu Rosebud, meu eldorado é, foi e sempre será a cidade de Belo Horizonte. Desde os quatro anos, só de pronunciarem perto de mim a sílaba “be...”, já vou correndo fazer as malas. Para um cara que mora numa cidadezinha pequena, razoavelmente atrasada e fervilhante como Montes Claros, ir a um lugar como BH é como passar de um Fusquinha 1968 para uma Maserati conversível.

Sempre que há uma oportunidade como um curso de medicina pra minha mãe, uma consulta médica ou simplesmente férias e feriados, eu dou um jeito de convencer meus pais a me levarem junto. Claro que, com a separação, essas viagens ficaram menos constantes, mas ainda ocorrem. Neste ano as coisas foram meio difíceis pra todo mundo, tanto que meu pai nem mesmo quis comprar passagens de avião para irmos passar as festas de fim de ano com a família dele em Natal-RN. Mesmo assim, apesar de já ser um marmanjo de 25 anos, que poderia muito bem ter ido sozinho, consegui convencê-lo a me levar de carro.

A viagem daqui até BH é mais ou menos curta, com a estrada podendo ser desbravada em no máximo 5 horas. Mas não dessa vez. Com as obras de recuperação da BR 135 bem atrasadas, em um ponto interditado entre Bocaiúva e Curvelo os veículos que estão indo precisam esperar passar os que estão voltando. E, como esse trecho tem perto de 20 km de extensão, tome chá de cadeira! Somadas essa parada, mais outras três, menores, foram acrescentadas mais duas horas na viagem. Há malas que vêm de Belém como diria meu avô Silveira. Se não tivesse tido essa parada, não teríamos comprado a estrela dessa viagem: um CD pirata da mais fina flor do brega dos anos 70. Minha mãe iria amar...

E quando achávamos que não haveria mais contratempos na viagem, eis que nós fomos surpreendidos por uma formidável tempestade, a maior que eu já vi até hoje. Parecia até uma cena do filme 2012. Raios caiam a um palmo dos carros, as rodas pelejavam contra as leis da física para não aquaplanarem, a água escarrava com tanta força que não dava pra enxergar nada adiante num raio de 20 metros. Uma verdadeira aventura de meia hora!

Passados todos os contratempos, enfim chegamos à BH com 2 horas de atraso. Mas, a segunda casa na qual eu cresci correndo, comendo e comprando já não lembra em nada meu Rosebud de infância. Tudo radicalmente mudado, mas ainda assim familiar. O trânsito só não é o pior de todos porque São Paulo ainda existe. Levamos meia hora para dar a volta completa e conseguir entrar no BH Shopping-e olha que nem era a hora do rush.

Para mim e meus pais, o BH Shopping sempre será o melhor shopping center já construído. Entro e saio dele desde quando ele tinha só dois andares, um par de escadas rolantes e uma única praça de alimentação com O Pizzaiolo, Pizza Hut, Top Grill, Kid Batata, Mcdonald’s e Bang Bang Burger. Mas, como a ganância e a explosão demográfica não têm fim, agora ele é um estacionamento gigante e coberto de quatro andares com um shopping enorme no meio. As 142 lojas originais deram lugar a mais de 300 que nem eu nem meu pai nunca ouvimos falar, e tudo custando os olhos da cara, pra variar. Ainda é o mesmo shopping, no mesmo lugar, mas ao mesmo tempo não o é.

Basicamente sigo à risca meu programa de passeio quando vou lá: Livrarias nos shoppings, lojas de brinquedos, hipermercados, shopping da muamba e, ocasionalmente, algum restaurante de fast food.

Costumava ser uma tradição minha passar o fim de semana inteiro me alimentando só de fast food em BH. Noutros tempos eu voltava para minha cidade 1 kg mais gordo só de McDonald’s e Burger King, mas nessa e nas últimas vezes não cheguei nem perto de nenhum sanduba. Deve ser o bom senso da maioridade... NOT!

Depois de uma tarde e uma manhã batendo perna pelo centro da cidade e torrando dinheiro, fomos visitar tia Carla, e com Ivair, seu marido e minha prima Maria Fernanda, voltamos ao BH Shopping para deixar os bolsos ainda mais vazios.

Após nos despedirmos, aproveitamos o embalo e fomos ao shopping da alta roda da cidade, o Diamond Mall. Esse sim, nos surpreendeu pelo tanto que tinha mudado. Sequer podíamos dizer se estávamos indo ou vindo dentro dele! Infelizmente, na saída fomos surpreendidos novamente pela mãe Natureza, que nos ilhou com uma tempestade monstruosa no estacionamento do terraço, que chegou a arrebentar o teto de acrílico do shopping.

Na manhã de Domingo, papai enfim conseguiu encontrar bens de consumo que lhe interessaram e não voltou pra casa de mãos abanando. E assim, recém-chegado aos meus aposentos e com o sentimento que a viagem ainda não acabou, regresso feliz e revigorado à minha rotininha.

Aaaaaah, meu amado “Belzônti...”

* Fernando Yanmar Narciso, 25 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
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3 comentários:

  1. Nada como ter um lugar pra onde ir...o seu
    é BH e o meu é São Fidèlis, interior do Rio
    isso aconteceu depois que abri um portão
    feito de bambus e vi o rio Paraíba ali tão
    pertinho que podia tocá-lo.
    Adorei o texto.
    Beijos

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  2. Ler sobre sua viagem é continuar viajando. Interessante que uma boa viagem é interpretada de forma diferente por cada um. Alguns gostariam de ficar em bares, ou ir a teatros. No caso, só bater pernas já te deixou feliz.

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  3. Também amo BH, quase morei lá, mas acabei fazendo faculdade aqui. Deveria ter morado na cidade, certamente teria gostado. Cada um com seu refúgio, o meu é a cidade de Tiradentes. Bacana o texto. Abraço.

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