sexta-feira, 18 de dezembro de 2009


Mero bate-papo

C
aríssimo leitor, boa tarde. Hoje venho até você para um mero baste-papo informal, sem nenhum assunto específico e nada de especial a tratar. Pena que se trate de monólogo e apenas eu faça uso da palavra. Pode, claro, se transformar em diálogo, se você quiser. Basta concordar com minhas colocações ou discordar delas no democrático espaço dos comentários. Se preferir, porém, se limitar a ler minhas divagações, esteja à vontade.
Puxe a cadeira. Chegue mais perto do computador. Pois é, como uma conversa puxa outra e a gente pula, sem perceber, de um assunto para outro, talvez trate de algumas coisas úteis que sequer estavam programadas. Mas talvez apenas...
Nos quase quatro anos que tenho o privilégio de ser o editor do Literário (que serão completados em 27 de março de 2010), tive mais satisfações do que aborrecimentos com esta tarefa. Caramba, é um baita privilégio ler tantos bons textos, vindos do Brasil inteiro, e isso todos os dias do ano. Quantos têm essa oportunidade? Pouquíssimos!
O que mais me aborrece, ao contrário do que possa parecer diante de minhas intempestivas manifestações a respeito, não é a ausência, ou a escassez, de comentários em nosso espaço. Dou essas broncas costumeiras e periódicas para provocar vocês. Afinal, meu papel, além de editor, é também o de “animador” da festa de bom-gosto e de talento. Por isso crio esse “tipo” de mal-humorado e ranzinza, como era um jurado muito antigo do programa do Sílvio Santos que fez fama com seu azedume, o Zé Fernandes.
O que acho chato é quando contestam a minha função. Explico. Há inúmeros casos de textos que recebo em que estes contêm um baita conteúdo, digno dos grandes escritores. Mas... (sempre há um mas), a redação é um deus-nos-acuda! É confusa, cheia de exclamações em lugares errados, de acentuações equivocadas e de fartura de reticências, todas inapropriadas. Isso quando não têm incorreções de grafia.
O que tenho feito nestes casos? Praticamente reescrevo os textos, dando-lhes coerência, entendimento e suprimindo toda a ambigüidade, até para ressaltar seu belíssimo conteúdo.
E qual é a reação dos autores? A pior possível. Escrevem-me reclamando da interferência e alguns até ameaçam-me de processo judicial (coitados dos juízes que já têm tanto trabalho e ainda têm que agüentar essas abobrinhas de imbecis tão chatos!).
Porém, como eles acham que seriam tratados pelos editores de jornais caso encaminhassem seus textos mambembes para publicação?
Garanto e juro sobre a Bíblia (pois sou editor de jornal há 46 anos) que as providências seriam uma dessas duas: ou decidiriam não publicar a tal colaboração, sem dar a mínima explicação a quem quer que seja (como a imensa maioria faz), ou procederiam (com generosidade) como costumo proceder: ou seja, fariam um copydesk no texto e o publicariam (raríssimos, contudo, agiriam assim).
O engraçado é que esses textos “mexidos” são, via de regra, os mais elogiados pelos leitores. O fato deles haverem sido revisados, não tira o mérito dos seus autores. A “essência” é sempre conservada. Em qualquer editora séria esse procedimento é rotina. A reação intempestiva e idiota, portanto, dos que são beneficiados com o meu trabalho, é o que mais me aborrece.
Há casos, também, em que ocorre o oposto. Em que os textos que recebo são extremamente bem escritos, verdadeiras aulas de correção gramatical, de uso adequado de pronomes, verbos, advérbioss, de metáforas, enfim, de esbanjamento de estilo. Todavia, quando “coados”, ou seja, submetidos à menor análise lógica, revelam-se absolutamente vazios, sem nenhum conteúdo. São do tipo “bonitinhos, mas ordinários”. O que faço nesses casos? Publico-os na íntegra. Afinal, eles se constituem em excelentes exemplos formais de redação. Ademais, não posso querer que todo o mundo que escreve seja um Henry David Thoreau, ou um Ralph Waldo Emerson, ou um Francis Bacon ou qualquer outro desses geniais pensadores que nos legaram obras marcantes de profundidade, transcendência e sabedoria.
No mais... Apesar do tempo que cada edição do Literário me toma, divirto-me com essa atividade. Curto demais o que faço. Aprendo coisas que faculdade alguma jamais me ensinaria. E, deixando a modéstia de lado, também ensino muito aos que se dão ao trabalho de lerem os meus textos sem nenhuma predisposição, atentando principalmente (ou somente) para o conteúdo. Obrigado pela companhia e por esse rápido bate-papo.

Boa leitura.

O Editor.

3 comentários:

  1. Sou adepta da seguinte política, por mais que eu
    tenha conhecimento, sempre haverá algo que possa
    aprender. Absorvo tudo que posso de cada texto
    ou poesia.
    Ah! Infelizmente sou fascinada pelas reticências. Devo ser compulsiva...tenho cura?
    beijos querido editor

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  2. Pedro,

    Eu só tenha a agradecer ao longo deste período que estamos juntos no Literário:
    MUITO OBRIGADO POR TUDO!!!
    Foram muitos auxílios e conselhos nestes quase quatro anos.

    Aquele abraço!!!

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  3. Núbia e Rodrigo, nenhum de vocês dois dá trabalho. ambos escrevem muito bem e espero um dia ser convidado para prefaciar seus livros. Ambos são escritores de muito futuro. Abraços aos dois.

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