segunda-feira, 30 de novembro de 2009




A cara de Brasília...

* Por Aliene Coutinho

Prestes a virar uma cinquentona Brasília tem histórias e muitos personagens. Nem todos são famosos nacionalmente, nunca apareceram nas redes televisivas ou foram manchetes de jornais, mas são conhecidos onde vivem, ou circulam. Fazem parte do dia a dia da cidade, são a cara da capital que já foi manchada tantas vezes com figuras que vieram para cá temporariamente e trouxeram na bagagem o oportunismo de estar ao lado ou dentro do poder.

A cidade pulsa. Tem vida. A maioria dos mais de dois milhões de habitantes criou raízes, teve filhos e netos. Hoje quase metade dos moradores nasceu aqui. É brasiliense. Para quem não sabe candango é quem veio construir a capital. Severina Régis é filha de candango. Veio para Brasília do Rio de Janeiro em 1964. Chegou, diz ela, mocinha. Foi na cidade que a adotou que conheceu o marido e teve filhos. Quem mora na cidade ou já veio visitá-la deve ter a visto.

Dona Severina, ou tia Severina como todos a chamam, há 25 anos vende saches nos bares do Plano Piloto. Com uma cesta cheia deles, a simpática velhinha de pouco mais de 1,50m, e presumo uns 70 anos, percorre as mesas oferecendo as bonequinhas com cheiro de sabonete que lembram enfeites de penteadeiras da vovó.

Sempre que saio para tomar uma cerveja esbarro com ela. Não tem como resistir. “São apenas cinco reais, moça!” E lá vai mais uma para coleção que espalho em minhas gavetas. E de grão em grão, ela ajuda no sustento da casa e compra remédios para a filha que está na fila do transplante de rim. E nem pensem que ela usa essa história para sensibilizar o cliente. Nada disso. Dona Severina apenas vende saches e distribui sorriso e simpatia. Foi futucando a vida alheia, no caso a dela, é que soube os detalhes de sua peregrinação pelas noites brasilienses.

É uma figura a Dona Severina! Está sempre de cara boa, mesmo para quem não compra. Outro dia me contou que uns universitários a filmaram. Ficou toda feliz e orgulhosa. Era um vídeo sobre Brasília e ela nem sabia que fazia parte da história dessa cidade que ela enche o peito para dizer que é maravilhosa e que a ajudou muito. Ela que vive assim de bar em bar brinda a capital com um copo de guaraná, agradece e sai. “Tenho de ir filha. A noite hoje está bonita e só começando”.

* Jornalista e professora de Telejornalismo

2 comentários:

  1. As cidades, sejam elas grandes ou pequenas
    só deixam suas marcas a partir do sujeito
    histórico.
    Salve Dona Severina!
    beijos

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  2. Gosto muito dessas crônicas sobre cidades e pessoas,Aliene. Tomara que a fila ande e a filha de dona Severina consiga o rim antes que seja tarde!
    Beijo

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