sexta-feira, 20 de novembro de 2009




A.A.

* Por Rodrigo Ramazzini

Hoje, ao contar esta historia, ele admite os erros. Mesmo apaixonado, um homem não pode cair na armadilha de levar uma mulher ao instituto de beleza e esperá-la. Neste dia foram três horas. Muitas surpresas podem acontecer no decorrer desde tempo.
- Quando foi isso, João Paulo?
- Há mais ou menos um ano... Eu estava até de férias do trabalho...
- Mas fazia pouco tempo que namoravam?
- Uns três meses... Bem no começo! Não quero te mentir, Arthur! Mas é por aí...
- E aí?
- Bom! Eu esperava a Patrícia dentro do carro já fazia uma hora. Não agüentava mais! Então, resolvi sair para tomar uma água em um barzinho que ficava bem próximo ao instituto de beleza...
- O tal instituto fica perto daquele depósito?
- Este mesmo! Daí, estava te contando... Fui até ao bar, sentei e pedi uma água. Tomava aquela água devagarzinho, apreciando a paisagem e fazendo uma análise sociológica do universo feminino, afinal, ninguém é de ferro...
- Análise sociológica! Essa é boa...
- É... Foi quando avistei no final da rua, uns longos cabelos que esvoaçavam meio ao ventinho que soprava naquele dia...
- Pára! Pára! Não precisa mentir! Vai querer dizer que olhaste para os cabelos da mulher primeiro, antes da bunda?
- Lógico! Ela vinha longe e em minha direção! Era quase impossível eu fazer isso...
- Tá certo! Tá certo! Segue...
- Fiquei olhando para aquela mulher. Meu amigo, quando ela se aproximou pude ver melhor: que mulher! Linda! Linda! Linda! Muito charmosa! Tinha os cabelos meio cor de chocolate, corpinho natural, sem malhação. A mulher era gostosa porque era gostosa! Vestia uma calça jeans, dessas que elas chamam de cintura baixa. E tu sabes que eu sou louco por mulher “acinturadinha”. Bah! Me deixou louco... Não gosto nem de lembrar...
- A mulher passou e daí?
- Ela passou e eu pensei “Deus! Dai-me apenas uma noite com uma dessas”! Pensei e acabei por impulso falando alto isso... Não é que mulher escutou e voltou...
- Capaz!
- Arãn! Voltou e perguntou “E por que não?”
- E tu?
- Arrepiei da cabeça aos pés e não resisti: convidei para tomar algo comigo...
- E ela?
- Prontamente puxou a cadeira! Pedi então uma cervejinha...
- Já estou até imaginando o que aconteceu...
- Pois é... Começamos a conversar... Papo vai papo vem, uma cervejinha aqui outra lá, rolou uma química, os assuntos se encaixaram, os “pezinhos” já se encontravam embaixo da mesa...
- Desenrola!
- Resolvemos ir para um motel!
- E a Patrícia?
- Com tesão e cerveja na cabeça nem pensei muito. Puxei o celular que estava no bolso da calça e mandei uma mensagem para ela dizendo que tinham me chamado com urgência no trabalho...
- Foi então?
- Foi então que... fui pagar a conta no caixa e quando voltei não encontrei mais o carro... nem a mulher. Ainda falta pagar oito prestações. Isso que dói!
- A mulher é aquela que foi presa essa semana, certo? Fazia parte daquela quadrilha que roubava carros na região...
- Isso mesmo!
- Eu só não entendi como ela pegou a chave do teu carro...
- O boca-aberta aqui, já meio bêbado, quando eu fui tirar o celular do bolso da calça, tirei junto a chave do carro, o cigarro, umas moedas...
- E deixou tudo em cima da mesa e foi pagar a conta...
- Exatamente!
- E aí?
- E aí me desesperei, aquela coisa toda! Nisso a Patrícia chegou, depois de três horas...
- Ai! Ai! Ai! E o que tu falaste?
- Inventei uma estória...
- Isso eu sei! Mas foi aí que a cerveja te salvou?
- É! Mais ou menos! Ontem, por insistência dela, ainda tive que ir a uma reunião dos Alcoólicos Anônimos.

* Jornalista

..

3 comentários:

  1. Tolerar a demora de uma mulher no shopping ou no salão é virtude que se adquire com a idade, quando a escassez hormonal nos torna mais humanos e menos sexuais. De resto, não há Cristo que agüente. Ótima crônica. Parabéns, Rodrigo!

    ResponderExcluir
  2. Ok! OK!

    Não foi um salão de beleza, mas no dia do meu casamento quem se atrasou quase uma hora foi meu marido...ele faz isso até hoje...rsrsrsr
    Deixar alguém esperando não é prerrogativa feminina...
    Ótima leitura.
    Beijos

    ResponderExcluir
  3. Achei emocionante e bem verossímel. O diálogo está perfeito, além de bem-humorado. Ótimo texto!

    ResponderExcluir