sábado, 18 de julho de 2009




Batata quente

* Por Marcelo Sguassábia

A felicidade apareceu sem avisar que vinha, e aparentava ser daquelas que quase ninguém merece, mornas e duradouras. Assim que me assegurei ser ela mesma, fiquei na encolha só olhando as boas-vindas à hóspede.
De tão esperada, quando enfim presente não souberam o que fazer dela. Eduardo pensou em ciceroneá-la, apresentando à felicidade o que era o seu oposto: a lástima em que se debatiam. Lídia conseguiu demovê-lo a tempo, argumentando que a visitante se horrorizaria e jamais voltaria para visitá-los. Talvez nem tirasse as bagagens do carro, ela que veio com destino certo, mala e cuia para ficar boa temporada. E era o olhar de um a outro, a se perguntarem mudos em estalares de dedos e tremores de mãos: e agora?Depois não vi mais nada: abandonei meu posto de observação no auge do impasse, enquanto a criada perguntava da janela se era para colocar ou não mais um lugar à mesa.

* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”

2 comentários:

  1. Mais mínimo que eu, hein, mestre Marcelo! Aliás, pela primeira vez, nos encontramos aqui no mesmo dia. Pois, que venha de lá um abraço! Um abraço pelo encontro e pela extrema competência em sintetizar sem prejuizo da compreensão a chegada dessa tal que tanto invocamos - a felicidade. Uma crônica que nos oferece a melhor literatura em poucas linhas. Seja sempre assim, pq haverá sempre o que ler. Parabéns. Grande abraço. Ótimo sábado.

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  2. A gente espera tanto pela felicidade, que quando ela chega causa espécie. Também tive experiência semelhante, mas deu tempo de ela almoçar comigo. Pelo menos isso.Congratulo pela objetividade telegráfica.

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