sexta-feira, 26 de junho de 2009


Realidade dá baile na ficção

O destaque desta edição é a oportuna crônica de Daniel Santos, que trata de uma das figuras mais fascinantes e ao mesmo tempo controvertidas do nosso tempo, o cantor e “showman” Michael Jackson, que morreu, ontem, nos Estados Unidos.
A carreira e, sobretudo a vida deste astro da música pop compõem um enredo tão dramático e surreal que nenhum escritor, por mais competente e criativo que fosse, conseguiria criar. Nem mesmo Franz Kafka faria uma história com as componentes de originalidade e absurdo como foi a deste cantor.
Daniel Santos traça, com argúcia e pertinência, um paralelo da vida desse fascinante personagem com a de Shirley Temple, a “menininha prodígio” de Hollywood, que encantou as platéias norte-americanas (e do mundo todo) na primeira metade do século XX, com suas peripécias, travessuras e, sobretudo, com seu precoce talento.
As crianças, todavia, crescem. E a garotinha travessa, que encantava as sensíveis mamães (hoje vovós, quando não bisavós) também cresceu. E embora tenha sido nomeada embaixadora dos Estados Unidos, transformou-se, na verdade, em figura caricata e obscura, muito distante do prodígio que foi em sua dourada infância.
Refletindo sobre a vida dessas duas personagens emblemáticas, é o caso de, com uma caveira nas mãos (como o Hamlet, de Shakespeare) repetir a surrada (mas sempre verdadeira) exclamação latina: “sic transit gloria mundi”. O papel principal da literatura, aliás, é exatamente o de suscitar reflexões, não importa se inspiradas em pessoas e ocorrências reais ou se em situações que sejam fruto exclusivo da imaginação e talento dos escritores.
Reitero o que não canso nunca de afirmar: somos testemunhas oculares do nosso tempo. Nossos textos, que não raro passam batidos dos olhares dos leitores desavisados, em um futuro nem tão remoto assim serão preciosos documentos de um período da história humana. É esse caráter documental que dá importância e validade àquilo que escrevemos.

Boa leitura.

P Editor.

Um comentário:

  1. A vida real é fonte de inspiração para a ficção, e não o contrário, como não me canso de falar quando alguém recrimina os novelistas de ensinarem maldades às pessoas comuns.

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