sábado, 20 de junho de 2009




O ótimo “velhinho”

* Por Seu Pedro

Aprendi em minha juventude: nunca devemos pedir a uma pessoa com bastante idade para que faça o que se pode fazer. Primeiro, porque não é justo que na época de alguém descansar das tarefas se lhr atribua mais trabalho, ainda mais em coisas que podemos realizar.

Se um pai se sente ocupado com dois ou três filhos, imagine quem tenha bilhões deles, como o nosso Deus, que por tanta idade deve ter muito trabalho com os filhos que andam distantes de seus caminhos. Por que então pedir a Ele bênçãos que nós próprios podemos conquistar, por exemplo, um bom namorado(a), um bom casamento, um bom emprego, uma vida sem brigas, pedir dinheiro farto quando você já vive dentro da merecida fartura?

Eu tinha 30 anos de idade quando pedi a Deus uma única coisa: Viver o dobro de minha idade, Ele me concedeu e completei sessenta anos, no ano passado. No dia do agradecimento voltei a fazer um pedido a Deus, apenas um pedido depois de trinta anos: que Ele me dê novamente o dobro da idade que já vivi, embora não saiba o que estarei escrevendo aos 120 anos, se é que ainda conseguirei pensar em a algo a escrever.Com esperança não deixo de fazer os meus projetos, como fiz o “Projeto do meu velório”. Claro que é semelhante a um projeto político ou obra de catedral. Vai demorar muito sair do papel. Mas não custa. Por minha saúde, eu não tenho que estar pedindo. Eu é que devo cuidar dela e acreditar no médico que estudou para isto e recebeu o diploma das mãos de Deus, junto com o da faculdade.

Assim crendo, cada vez que pego em uma receita médica, estou recebendo, por escrito, uma bênção vinda do Céu. E hoje não poderia ser diferente. Já havia ouvido falar da Doutora Mônica, mas mesmo que diariamente eu passe na porta daquele ambulatório público, o meu pé sempre doía ao pensar em subir a rampa, não mais de um metro de altura, e agendar uma consulta, com ela ou outro abençoado de Deus. E hoje doíam muito o meu pé, tornozelos, calcanhar e tudo, de caminhas que tenho do meu lado esquerdo. E sabem quem encontrei em minha frente e pitando um cigarrinho de palha? Ele mesmo! Só que na roupagem de um ótimo velhinho que conheci na Zona Rural.Ele me observou e perguntou: “Sô Pedro, que mancada é essa? Vai ali no hospitar e consulta com a doutora, ela é amiga, dá atenção, nem parece ser do susto”. “Que susto é esse?”, ai quem perguntou fui eu, e obtive resposta: ”É o Sistema Único de Saúde de Todos, para onde todos pobres recorrem!”. Aí é que eu entendi porque não é um simples SUS.

Aleguei ao amigo que não tinha marcado uma consulta, e que um dia o faria. O amigo, novamente com paciência, com sua charrete esperando, disse “Oi eu marquei pra hoje com a doutora 'Monca', só que não vou podê ir hoje. Aí te dou a minha ficha e ôce vai no meu lugar”. Topei. E meia hora depois, já estava dentro do consultório da médica, que para a minha surpresa, já era minha conhecida da escola de minha filha caçula.

Nem eu sabia que ela era uma jovem médica e nem ela sabia que eu seria um velho seu paciente. Fiquei à vontade na frente dela, até descalço. Ela examinou por completo meus pés, principalmente o que está sempre inchado, e descobriu a tempo uma úlcera diabética escondida atrás de um gigantesco calo. Eis a origem das dores.Viram? Não pedi nada a Deus, mas Ele, como pai que não esquece de levar um bom-bom, no dia em que meu pé mais doía, me colocou dois de seus representantes no caminho dos meus passos. Havia muitos pacientes a atender, e doutora Mônica foi objetiva: me encaminhou a um angiologista, um terceiro anjo que me fará uma pequena cirurgia, interrompendo o que poderia se tornar uma necrose, graças à minha diabete.

Tudo muito rápido, pois Deus não perde tempo. Então me lembrei de um causo: Dizem que Jesus, preocupado com as reclamações sobre atendimento em hospitais públicos, resolveu verificar ao vivo. Vestido com roupa de médico, viu um “colega” atarefado, atendendo uma enorme fila.

O médico sentava-se, olhava o paciente, escrevia uma receita, abria a porta do consultório, e enquanto um saía, chamava o próximo. Jesus, para sentir melhor o drama, mandou o médico lanchar, enquanto, no seu lugar, faria o atendimento.

Entrou o primeiro paciente em uma cadeira de rodas que, com dificuldade, girava as rodas. Jesus olhou-o e deu uma ordem: “Levanta-te e anda!”. Assustado com o impacto da ordem, o então paralítico pulou da cadeira, dobrou-a e saiu do consultório. Ao sair, os pacientes da fila perguntaram-lhe: “Como é esse médico? Atende bem?”. O ex-paralítico, com olhar de decepcionado, respondeu: “É como todos, nem me perguntou por que eu era paralítico?”.

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

2 comentários:

  1. Seu Pedro,é preciso manter um controle rigoroso do diabetes, fazer uma limpeza da área afetada e, caso haja infecção, usar um antibiótico de amplo espectro o mais rápido possível. A úlcera diabética acontece devido a um comprometimento da circulação e inervação das extremidades. Desejo-lhe melhoras e que venha nos contar como está. Não acredito em anjos, mas que eles existem, existem. Ontem avistei três deles, e numa noite só.

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  2. Crônica deliciosa, com pitadas de humor e de melancolia, além daquele algo mais que chamamos sabedoria de vida. Parabéns!

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