domingo, 21 de junho de 2009


Moderno ou eterno?

Trazemos, hoje, à sua apreciação, na coluna “Clássicos” – que a pedido de leitores passa a ser publicada em dois dias da semana, aos sábados e domingos –, o poema “Eterno”, de Carlos Drummond de Andrade, que suscita, particularmente, muitas reflexões. Destaco a abertura dele, os dois primeiros versos, em que o poeta diz: “E como ficou chato ser moderno/.Agora serei eterno”.
Há, principalmente entre os escritores novos (e alguns aspirantes a escritor) uma obsessão pela modernidade. Muitos, que nem sabem o que ela, de fato, signifique, findam por produzir textos caricatos, autênticas “conversas de louco”, eivados de neologismos desnecessários, de galicismos sempre dispensáveis e de anglicismos macaqueados do inglês falado nos EUA, a pretexto de serem “modernos” ao escreverem dessa forma. Evidentemente, não são. Sem que se apercebam, descambam, na verdade, para o ridículo.
O que escritores (não importa de que tempo) precisam é criar um estilo próprio de escrever. Após criado, compete-lhes aperfeiçoá-lo e manterem-se fiéis a ele. A boa literatura não é nem moderna e muito menos arcaica: é eterna. Sobrevive ao tempo, à efemeridade e ao esquecimento. Encanta gerações e mais gerações e se perpetua. A modernidade justifica-se, sim, mas nos meios de difusão do que se escreve. Ou seja, nos avanços tecnológicos que tornam possível o máximo de alcance das idéias produzidas que se queiram veicular.
Curiosamente, justo este tipo de “novidade”, que deveria ser recebido, sempre, com festas e com entusiasmo, é o que desperta maiores temores em algumas pessoas. A informática, por exemplo, que veio facilitar a vida de todo o mundo, ainda é encarada com reservas (quando não, com pavor) por alguns, que temem não se adaptar a ela. Por isso, utilizam-se de meios hoje arcaicos e nada práticos para produzir e difundir seus textos.
Mas o que está ocorrendo, atualmente, em relação à eletrônica, sequer é novo. Nem nisso a atual geração consegue ser original. É o mesmo que já ocorreu no século XIX, por exemplo, com o avanço da tipografia, que significou um salto notável na indústria gráfica, popularizando o livro e ensejando o surgimento da imprensa diária.
Victor Hugo descreveu da seguinte forma o que se pensava na época: "Trata-se, antes de mais nada, de um pensamento de padre. Do assombro do sacerdote diante de um novo agente, a tipografia. Do espanto e do deslumbramento do homem do santuário diante da imprensa de Guttenberg. Foi o encontro entre o púlpito e o manuscrito, a palavra falada e a palavra escrita, alarmando-se com a palavra impressa; algo comparável ao estupor de um passarinho que visse o anjo legião abrir suas seis milhões de asas. Foi o grito do profeta que ouve já zurrar e pulular a humanidade emancipada, que vê no futuro a inteligência minar a fé, a opinião destronar a crença, o mundo livrar-se de Roma". Evidentemente, isto não aconteceu.
A tecnologia, seca e fria, jamais matará a arte e a criatividade. Se alguém acalenta esses terrores, precisa se conscientizar, e logo, que eles são insanos e injustificáveis em relação ao o que é novo. Não se deve, pois, confundir “meio” com “mensagem”. Este, convém que seja sempre o mais moderno, prático e racional que puder ser. Aquela, contudo, não pode se submeter a nenhuma limitação, nem temática, nem formal, nem de tempo e nem da moda, porquanto é desejável que seja eterna.

Boa leitura.

O Editor.

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