quarta-feira, 24 de junho de 2009


Capacidade de síntese

Há escritores que têm o raro talento de, em pouquíssimas palavras, elaborar textos criativos, inteligentes e completos, posto que curtos. São exímios “sugestionadores” e conseguem transformar os leitores, se não em parceiros de criação, pelo menos em cúmplices das teses que expõem.
Fique claro, porém, que não há nada de errado com quem escreve textos extensos, livros com vários volumes, às vezes com 5 mil páginas ou mais. Claro, desde que o assunto abordado assim o exija e que não haja palavras supérfluas, não seja repetitivo e que, sobretudo, exista sólido e extenso conteúdo no que escreveu. Ou seja, que não se trate de mera “enrolação”. Como leitor compulsivo, este Editor prefere este tipo de escrita, que “vale o quanto pesa”.
Todavia, quem conta com capacidade de síntese, diz mais coisas, em menor espaço. Pode nem ser tão didático (e não é) quanto quem escreve textos bastante longos, mas leva a vantagem da variedade e do talento de sugestionar o leitor. Ou seja, seus livros nunca são “samba de uma nota só” e não comportam uma única interpretação, mas tantas quantas forem seus leitores. Tratam, por exemplo, de dezenas de assuntos, num único volume, ao passo que, quem não conta com essa capacidade de síntese, precisaria de uma dezena ou mais deles para dizer as mesmas coisas.
Já tive a oportunidade de editar (e de publicar, aqui mesmo, no Literário), contos curtíssimos, de escassos dois parágrafos, e que ainda assim foram completos, com começo, meio e fim. Ou seja, coerentes, instigantes e verossímeis. Quem achar que é fácil escrever desta maneira que o tente, para ver que as coisas não são o que parecem. É difícil! Dificílimo! Para a maioria dos escritores, é até impossível.
Claro que o valor de qualquer obra literária não está em sua extensão. Há muito texto capenga, sem rumo, direção ou sentido, composto de poucas palavras. São tão ruins, que nem dá para considerá-los “Literatura”. Como também há produções extensíssimas, que requerem tempo imenso para serem lidas, sumamente atrativas.
Há livros “massudos” que o leitor até reluta em tirar da estante e muito menos em abrir. Mas... quando começa a leitura, não quer mais parar, tamanha é a capacidade do autor de torná-lo “cúmplice”. O que conta, de fato, em Literatura, portanto, é sempre o conteúdo (está implícito que a forma seja rigorosamente correta, clara e lúcida). Todavia, que a capacidade de síntese, de um escritor talentoso e criativo, é uma arma a mais para seu sucesso, disso não resta a menor dúvida.

Boa leitura.

O Editor.

2 comentários:

  1. Aplaudo a opinião do editor sobre a concisão literária, por mim mesmo eleita como forma de expressão, se bem acrescente que apenas um tipo de leitor a prefira: aquele que, através da leitura, interfere na obra e a recria segundo a própria interpretação. Quem busca um desfecho pertinente, esse se decepcionará. Mas a literatura dá de ombros.

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  2. O texto mais curto pode ser mais claro. Já tentei cortar palavras e o texto ficou melhor. Mas para isso é preciso mais vocabulário, e habilidade. Nem sempre é possível, mas pelo menos eu tento.

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