sexta-feira, 29 de maio de 2009


Grande desafio

Muitos escritores consideram a redação de um romance como o grande desafio de suas vidas. Às vezes, têm, há anos, uma boa história na cabeça e não sabem como desenvolvê-la. Entendem que colocá-la em forma de conto, ou de novela, seria um desperdício. Há os que arregaçam as mangas e partem para a luta. Às vezes conseguem concluir o romance, publicá-lo e vê-lo se transformar em sucesso de vendas. Outras vezes, no entanto... desistem no meio do caminho, desanimados diante de tanto trabalho.
Salvo exceções, esse é um gênero que nos consome um tempo enorme. Dizem que Camilo Castelo Branco, premido por dívidas, para acalmar os credores, escreveu dois livros (e que livros!), “Amor de salvação” e “Amor de perdição” em irrisórias 48 horas. Se for verdade (e não há razões objetivas para colocar isso em dúvida), é um caso raro. Raríssimo.
Caso o escritor seja organizado e se dedique exclusivamente à literatura, o tempo médio para a redação de um romance é por volta de seis meses. Destaque-se que a parte mais árdua da tarefa não é a redação em si. É o processo que se segue a ela, ou seja, o da “des-redação” (perdoem o neologismo um tanto deselegante), do corte de tudo o que for supérfluo e desnecessário, da retirada da escória, da ganga bruta que impede o glorioso brilho do pequenino diamante. É bastante comum que as 600 páginas que você escreveu, em seu ímpeto criativo, se reduzam, ao cabo desse processo, a 200, se tanto. Quem já escreveu algum romance sabe do que estou falando.
Há métodos e métodos para contar uma boa história nos parâmetros desse gênero literário. Alguns, desenvolvem-na do começo ao fim, num só sopro, e só depois fazem as devidas correções, reparando as inevitáveis contradições, paradoxos e, sobretudo, absurdos. Não recomendo esse procedimento. É muito mais trabalhoso do que parece.
Da minha parte, prefiro agir como os bons arquitetos. Faço, antes, um “projeto” da história a ser narrada, ou seja, um bom resumo, como a planta de uma casa. Depois, vou desenvolvendo a construção, meticulosamente, parte por parte, do alicerce ao teto. Funciona.
Há quem se coloque na pele do principal personagem e faça toda a narrativa na primeira pessoa. Outros, porém, preferem assumir a postura quase que de uma divindade, que tudo vê (até os pensamentos e sentimentos alheios) e tudo sabe, e desenvolvem suas histórias dessa maneira.
Há quem faça a narrativa em linha reta, com começo, meio e fim. Por outro lado, há os que comecem as narrativas por onde deveria ser o final, retroagindo depois ao princípio, para desembocar exatamente onde começaram. Minha opção, com múltiplas variações, é pelo que alguns chamam de “ação em média ré”. Ou seja, a história começa com determinado acontecimento, volta ao princípio para explicá-lo, com a devida apresentação dos antecedentes e finda com as conseqüências.
Claro que um tema dessa natureza não se esgota em ligeiras considerações como estas. Exorto-o, todavia, escritor amigo, a aceitar o desafio que você, certamente, a cada dia, faz a si próprio e a pôr no papel aquela grande história que você tem, há anos, na cabeça. Mas não relute. Comece já, e boa sorte. Quem sabe você não será o best-seller da vez!!!

Boa leitura.

O Editor.

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