quarta-feira, 29 de abril de 2009




Por que não pára relógio?

* Por Seu Pedro

Ouvi-o apenas uma vez, mas sua voz, desde esse dia, me acompanha. Para onde vá meu computador, lá vai o CD de Carlão. Meu ouvido se apaixonou por aquela voz cristalina e agradável que cantou em uma “Feira do Luar”, evento promovido pela primeira-dama do município de Guanambi, Bahia, onde se reúnem artistas plásticos e artesões e outros expoentes da cultura popular, até as quituteiras. A cada um dos eventos, há o convite a um ou a dois expoentes da Musica Popular Brasileira, prevalecendo os artistas regionais. Carlão não é baiano, mas está bem próximo: é de Montes Claros, Minas Gerais. Como a gente diz, é “um tirico de revover”, só trezentos quilômetros!

No entanto Carlão não é estranho a Guanambi, onde seu irmão Edgard, há décadas, aqui vive. Dono de um dos mais potentes carros de som, Edgard é destes que fazem propaganda circulando nas ruas. Um “terror” para meus ouvidos! Mas estamos sempre de bem quando não brigamos. Já Carlão, com um repertório romântico, é paradoxal ao meu comportamento amoroso, eu que penso nunca ter vivido de “Aparências” como suhere a primeira faixa do CD, música de autoria de José de Ribamar Cury Heluy, sucesso em muitas vozes, mas na de Carlão, penso ser imbatível.

Volto o CD, como se estivesse atrasando “O Relógio” – El Reloj de composição do argentino Roberto Cantoral, com sua versão em português por Nely Pinto, e que me fazia deter o tempo com Trio Irakitan, sucesso dos anos sessenta, até que arrebentou na voz de Anísio Silva, nosso conterrâneo daqui pertinho, de Rio do Antônio. Anísio se revelou como uma das mais belas vozes no tempo da patriótica revolução das vozes. Filho deste sudoeste da Bahia, Anísio Silva nos deixou com saudades. Carlão não veio substituir nenhum dos interprétes anteriores de “O Relógio”, mas dar-lhe seu timbre!

Eu que em tempos passados já fui rei em Montes Claros, a terra de Beto Guedes, só vim conhecer a voz de Carlão aqui na Bahia. Mas de lá trago boas lembranças do Grupo Agreste, principalmente de Pedro Boi, que me leva a silenciar para melhor ouvir “Rapariga do Bonfim”, de Elthomar Santoro e Ismoro da Ponte, e vou matando saudades do meu reinado de cinco dias, de um sábado de carnaval a uma quarta-feira de cinzas. Encontrei Edgar, e lhe pedi que, estando com Carlão, peça que não esqueça de me mandar um novo CD, pois o de três anos atrás, já tem um buraco no meio de tanto tocar.

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

Um comentário:

  1. Pois, ouçamos Carlão! Não o conheço, pq só conheço o que a mídia me permite, enquanto as grandes vozes que emanam do povo não chegam ao povo, por falta, talvez, de "potencial de mercado". Ah, só de imaginar o quanto perdemos com isso ... Parabéns, seu Pedro, pela denúncia e pela valorização do que é, de fato, popular.

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