quarta-feira, 22 de abril de 2009




Dia do índio pele branca de olhos azuis


* Por Seu Pedro


Domingo, 19 de abril, foi meu dia também. Criadapelo presidente Getúlio Vargas através do decreto-lei 5540 de 1943, a data relembra o dia, em 1940, no qual várias lideranças indígenas do continente resolveram participar do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado na Cidade do México.

Instituído como um dia de comemoração no Brasil, pelo objeto da homenagem adquiriu de configuração internacional. Claro que os índios norte-americanos Peles Vermelhas foram incluídos. Afinal, mesmo que não sejam nenhum Pataxó, são também índios, mesmo culpado das crises em que só não faltam flechas. Deve ser respeitada a condição individual de cada povo, mas os discriminados fazem jus a uma cota na faculdade.

Só a partir da Constituição de 1988 é que houve a edição de diversos instrumentos normativos garantindo direitos aos índios E só agora, em 2009, nosso presidente Lula reconhece os “peles brancas”, raça guerreira, normalmente de olhos azuis, com uma característica diferente: Passa horas pensando em negócios, menos eu branco, de olhos azuis, que ingressei no ramo da comunicação, mas errei de rua. Pouca publicidade, quase nenhum ganho, mas pelo menos não estou no vermelho.

E agora, que tenho direitos iguais às raças e povos descriminados, vou me inscrever no bolsa-família, no bolsa-educação, no bolso dos amigos privilegiados do presidente, que devem estar recheados. Espero que aprovem no Congresso o “bolsa revoltados”, pois sou um deles. Estou me reunindo com os brancos de olhos azuis da minha comunidade para que seja formada a Frente Única pelo Reconhecimento dos Índios Brancos de Olhos Azuis – FURIBOA, mistura de raça furiosa e boa.

Raça furiosa porque passou para lista das vítimas do racismo e do preconceito, o que também combatemos. E raça boa porque não protesta: prefere beber brindar com whiskys, chopes ou staineggers (este último uma “cachaça” tipicamente alemã), como é o meu caso, que mesmo fabricado no Brasil, sou de receita germânica. Mas alheio a estes fatos, vou seguindo o conselho da Marta Suplicio: “Relaxando e gozando da situação”.

Domingo pela manhã ri muito quando um senhor, de seus setenta anos, de cabelos brancos, pele branca e olhos azuis, entrou pela porta dianteira de um ônibus urbano. Ao ser solicitado sobre sua identidade, perguntou, calmamente, ao motorista: “O senhor não viu que sou branco de olhos azuis, e que sou equiparado às raças excluídas?” E complementou: “Hoje é meu dia, também, Dia do índio pele branca!”

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

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